Didática

LITERATURA NA ESCOLA

 
 
     A leitura precisa fazer parte da rotina da escola com as seguintes finalidades: formar bons escritores, despertar o hábito de viajar pelas páginas dos livros, desenvolver o interesse pela história literária, aumentar o senso crítico e exercitar a capacidade de interpretação de textos. Em outras palavras, estimular a leitura é sinonímia de aumentar as faculdades intelectuais do estudante. Para tanto, textos narrativos, descritivos, teatrais, dissertativos, poemas, notícias, textos publicitários e outros precisam ser apresentados aos alunos, pois, essa proximidade – alunos / textos – amplia as possibilidades de diferentes estilos de escrita e aumentam a probabilidade de se identificarem com determinado gênero textual.
         Segundo Angela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos lingüísticos sem a compreensão semântica dos mesmos. A boa compreensão de um livro está intimamente ligada ao gosto que o leitor tem pela obra escrita. Para o público juvenil e infantil, que estão tomando gosto pela leitura, não é válida a imposição dos textos, logo, cabe ao educador apresentar os diferentes estilos de literatura e deixar o estudante livre para escolher.
          Celéstian Freinet vem concordar com essa afirmativa quando diz que a criança e o adulto possuem traços semelhantes. Ambos não gostam de imposições autoritárias, não gostam de uma disciplina rígida - quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa-, não gostam de fazer determinado trabalho por coerção, pelo contrário, gostam de escolher o seu trabalho. Portanto, é papel dos professores motivar a leitura espontânea.
          De que forma o aluno vai conhecer as crônicas, os contos e as poesias de Machado de Assis se a o professor não apresentar? Se não tiverem acesso aos livros de Lispector, como tomar gosto pela literatura de Clarice? A magia da Poesia de Manoel Barros envolve tanto os leitores, quanto os críticos literários mais sofisticados, que o definem como “o grande poeta das pequenas coisas”, não seria válido dar possibilidades dos estudantes se encontrarem com os poemas Manoel Barros? Nós gostamos das crônicas recheadas de humor de Luiz Fernando Veríssimo porque tivemos acesso à mesma. Aplaudimos o livro Senhora, escrito por José de Alencar, pois tivemos conhecimento da existência. Temos sentimentos de angustia e tristeza ao ler Negrinha, conto de Machado de Assis, pois nos foi dado acesso a ele. Enfim, admiramos as poesias de Carlos Drummond de Andrade porque sua obra, de grande qualidade literária, passou pelas nossas mãos!
             É evidente que formar leitores e escritores é complicado, porém, é necessário não economizar no trabalho para alcançar tal objetivo. Novamente é preciso lembrar uma das técnicas pedagógicas usadas por Freinet que estimula a escrita e a leitura. Ele percebeu que existia uma separação entre o cotidiano e a vida na escola, percebeu, ainda, que as crianças demonstravam interesse pelo mundo social e que esses eram superiores ao interesse pelos textos escolares. Surge nesse contexto às aulas-passeio, essas tinham por objetivo trazer motivação e aproximar a escola da vida e, por conseqüência, a prazerosa e ativa aprendizagem. De maneira bem simples essas aulas funcionavam da seguinte forma: o professor sai com as crianças para passeios e ao voltar, cada um conta a sua visão da experiência. Em vez de se priorizar a perfeição e a correção gramatical do material, dá-se grande estímulo à criatividade dos alunos. Com essa criatividade é menos complicada a abstração dos códigos escritos nos livros, conseqüentemente, é mais fácil estimular a leitura e a escrita.
            O espaço da escola vai além da aprendizagem de um currículo determinado, e por isso estas instituições devem compreender que faz parte de seus objetivos o incentivo de futuros escritores de contos, de peças teatrais, compositores de músicas, poetas, repórteres, professores etc. Enfim é de responsabilidade da direção, coordenação, dos professores e dos pais a formação de bons leitores e ótimos escritores. Os embriões de uma cultura pautada no gosto pela literatura estão nas instituições de ensino-aprendizagem. Viva a escola que acredita nessa proposta e investe em espaços de leitura!

 


Antes de alfabetizar, reflita...

Para entender alfabetização como o processo de leitura do mundo que precede a leitura da palavra, como já dizia Paulo Freire, é preciso desconstruir os conceitos adquiridos, em grande maioria, na experiência de alunado em escolas que adotavam modelos tradicionais de ensino-aprendizagem. Infelizmente, ainda se encontra métodos que ignoram o processo de construção natural dos estudantes de classes de alfabetização infantil, mesmo tendo as pesquisas na área tomadas proporção significativa. Esses métodos, que mais nos interessam agora apresentar, entendem o processo de alfabetização como sendo uma mera decodificação e codificação dos códigos oriundos da sociedade adulta.
É complicado de entender que, em pleno século XXI, encontra-se profissionais da educação alfabetizando através da correspondência entre o som e a grafia, o oral e o escrito, apresentação de letras, sílaba por sílaba ou palavra por palavra para entender o todo. Esse processo, denominado método sintético da alfabetização, resume apenas na aquisição de habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler.
 Porém, é necessário ajudar o educando a construir, por esforço próprio, a capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimentos.  Todas essas capacidades serão concretizadas se os alunos tiverem acesso a todos os tipos de textos. O aluno precisa encontrar os usos sociais da leitura e da escrita. A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral. A alfabetização de um indivíduo promove sua socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo.
Não acreditao que o método sintético, que parte da fragmentação das palavras, das frases e ou do texto, alcance os objetivos, citados no parágrafo anterior, da alfabetização em sua plenitude.
Enfim, é complicado aceitar que os alunos serão letrados ao decorar o alfabeto, ao reconhecer letras isoladas, reunir sílabas para formar e ler palavras distantes do seu campo social. Não são as sílabas isoladas, as unidades sonoras, as vogais, consoantes e depois as famílias silábicas para ai apresentar os textos, que formarão cidadãos com prazer de ler, escrever e conviver criticamente na sociedade. Está na hora de refletir se realmente o método que obedece a essas características, denominados sintéticos, são os melhores para a formação de seu aluno.

 

“O Educador se eterniza em cada ser que educa” (Paulo Freire)

   Seria um grande erro se nesse blog destinado à educação não fosse citado o mestre Paulo Freire. Ele nasceu em Recife, se formou em direito, mais não exerceu sua profissão tamanha era sua paixão pela educação. Foi perseguido pelo golpe de 64 e exilado. Passou por paises como Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça. Ocupou-se com cargos relevantes na política e na educação. Além de educador Freire foi um pensador, pois nos deixou reflexões valiosas no campo educacional. Suas reflexões giravam em torno de algumas dicotomias: dominante-dominado, elite-povo, interesse social-necessidade social e educação bancaria-educação libertadora. Paulo Freire dizia que educar é um ato político, portanto não neutro por isso “é preciso ousar, aprender a ousar, para dizer NÃO a burocratização da mente a que nos expomos diariamente” (Paulo Freire).

    Considerar a vivencia do educando e o dialogo entre educador e educando visando à construção de um pensamento critico sobre determinado assunto surgido em ambiente de ensino são características contrarias a visão de uma educação bancaria e, portanto, significantes para uma educação problematizadora.

    Há na lógica bancaria de educar uma valorização do saber do professor em relação ao saber do aluno. Nesta maneira de entender o processo educacional o professor tem a formação, tem a experiência da pratica docente e a vivência da pratica discente, logo ele é o único, na relação professor aluno, que é capacitado para seleção dos conteúdos a serem expostos em aula – alia, o conteúdo nessa visão bancaria é o mais importante. Nessa concepção de educação, é mais valido narrar, disserta do que considerar as experiências trazidas pelos educando, isto é, são as famosas aulas: copie, responda o questionário, não pense, aceite tudo como pronto ou ainda eu professor ensino você aluno ouve para aprender.

    Nesse contexto as aulas são cheias de palavras vazias – como diz denomina o pensador – ou seja, palavras que são fora da realidade do educando, portanto sem significado para os “a-lunos”. Paulo Freire dizia que quem é educado assim “tende a torna-se alienado e incapaz de ler o mundo criticamente”. Então o aluno é domesticado para aceitar sem pensar os escândalos que são socialmente aceitos.

    Entretanto, Freire nos apresenta um outro modo de educar: educação problematizadora. Nela a relação com o conteúdo é valida na medida em que for analisado em conjunto: “educando- educador” e “educador-educando”. A finalidade dos estudos em aula é criticar e refletir sobre determinados assuntos. Para tanto é necessário o uso de palavras concretas por parte do educador, ou seja, o dizer do professor deve ter como ponto de partida a vivencia da turma. Assim, faz parte dessa visão a ação-reflexão, educação-justiça social, ensinar é aprender-aprender é ensinar, curiosidade-aprendizado. É bem explícita a finalidade desses complementos quando Freire diz que “a educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. (Paulo Freire)

    Em 1997 Freire veio a falecer, porém ainda hoje é necessário dar atenção ao modo dele de pensar, ver e ler o mundo. Então, Fica para nós o seguinte dizer do mesmo “não é possível refazer esse país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo serio com adolescente brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”

UM POUCO, QUASE NADA, DE PAULO FREIRE!
Educação Bancária:

Educador

- Enche os educandos dos conteúdos de sua narração.
- Quanto mais deposita os conteúdos, melhor educador será.
- Sujeito do processo.
- Limitador da criatividade dos educandos
- Disciplinador.
- Depositantes.

Discurso do Professor:

- Dissertações vazias de atos/ palavras concretas.
- Conduz o educando à memorização mecânica.

Educando

- O educando fixa, repete, decora, memoriza sem perceber o real significado.(Ex: quatro vezes o quatro; Pará capital de Belém).
- Quanto mais “docilmente” se deixar encher, melhor educando será.
- Objetos do processo.
- Anulação do poder de criatividade.
- Passivo no processo ensino aprendizagem e na relação com o mundo.
- Disciplinado.
- Depositários.

Saber/ Concepção de Educação
- Doação dos sábios aos que nada sabem
- Ato de transmitir, transferir, depositar valores e conhecimentos.

Em resumo
- Não há criatividade, não há transformação.
- Não há experiência vivida, mas sim experiência narrada / transmitida.
- Não há diálogo, professor aluno.
- “Transforma a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime”

Educação Libertadora

Educador
- Humanista.
- Profunda crença nos homens
- Companheiro dos educandos na relação com estes.
- A serviço da libertação.
- Auxiliam o educando no processo de libertação, e ao mesmo tempo é educado por estes.
- Pessoa Crítica.

Discurso do professor.
- Orientação no sentido de humanizar educador e educando.
- Fundamentado na crença do poder criador do homem.
- Norteado pela idéia de libertação da dominação elitista.

Educando
- Recriadores do mundo.
- Questionadores do mundo.
- Pessoas em processo de libertação da dominação elitista.
- Pessoas Crítica

Saber/ Concepção de educação
- Somente com a comunicação, que tem sentido a vida humana e a aprendizagem.
- Troca entre o pensar do educando e o pensar do educador, mediatizados pela realidade.
- Gira em torno de uma realidade.
- Educação problematizadora (Rompimento com a educação bancária)

Em resumo.
- Não há superposição de homens aos homens (Educador sobre educando, ou seja, dominação).
- O educador enquanto educa é educado.
- Todo o conhecimento e toda a cultura são válidos, são respeitadas.
- Educador e educando estabelecem uma forma de pensar e atuar juntos. 
 

PCN’S, aprendizado e a arte de dramatizar.


“O educador deve propiciar o meio adequado
para que os educandos em suas relações intrapessoais
e interpessoais busquem assumir-se como ser social e histórico,
como ser pensante, comunicante, transformador, criador,
realizador de sonhos, capaz de amar, nesse sentido,
o Teatro é um recurso valioso”.(Freire. 1996 p.46).

    Ampliar a percepção, a sensibilidade, a reflexão e a imaginação são itens proporcionados pela disciplina da arte. Além de possibilitar um conhecimento maior nas manifestações artísticas e culturais de distintas épocas. Com essa finalidade, os parâmetros curriculares de arte, oferecem um material que serve como subsídio para os educadores trabalharem com a mesma competência exigida nas outras disciplinas.
    Uso do corpo, da fala, uso do gesto, comunicação e manifestação que necessita a expressão são por excelência características que exigem do homem presença corporal integralmente. A arte de atuar se encontra contida em cada um, essa acompanha o desenvolvimento humano nas diferentes faixas etárias. Assim sendo, o educador que souber desenvolver, no aluno, o conteúdo programático com o auxílio do teatro, certamente, terá êxito no fixar da matéria, na expansão do conhecimento e até no desenvolvimento do respeito ao sentimento do próximo.
     No processo de formação da criança, assume o teatro, uma função integradora e proporciona oportunidades de apropriação de uma visão crítica da construção dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade.
     No processo de formação de texto teatral, por exemplo, há trocas de experiências. Essas possibilitam um processo de socialização que se caracteriza por ser consciente e crítico, afinal, é um exercício de convivência democrática, com a finalidade de uma organização estética além de proporcionar uma expansão cultural.
     O desenvolvimento integral da criança deve estar diretamente ligado ao diálogo, ao respeito mútuo, a cooperação, a reflexão de como agir com os colegas, aceitação das diferenças e ao desenvolvimento de sua capacidade expressiva e artística. É importante dizer que a arte de dramatizar possibilita e contribui para essas experiências interligando-as.
     É papel do educador, apresentar as possibilidades de seus educandos vivenciarem as propostas expostas nos parágrafos anteriores, de maneira a incentivar as relações. Mas, o professor deve antes conhecer o desenvolvimento da linguagem dramática das crianças e sua relação com o processo cognitivo. Isso implica em perceber que é gradual o processo de percepção da atividade teatral, por exemplo, por volta dos sete anos de idade a crianças se encontra na fase do faz de conta nessa a realidade é tratada da maneira que é vivenciada, ela ainda não é capaz de refletir sobre temas distantes do seu dia a dia. Somente próximo dos oito/ nove anos, irá se preocupar em mostrar os fatos de maneira realista, logo, está mais consciente no que dizer por meio do teatro. Em suma, o educador precisa se preocupar em desenvolver nos alunos as peculiaridades teatrais respeitando as limitações do cognitivo.
     A elaboração de cenários, objetos cênicos, figurinos, organização do espaço teatral estão diretamente relacionados com a estrutura e o material que a escola disponibiliza ao professorado. Portanto, compete à instituição de ensino, oferecer um bom espaço para a realização do desse trabalho .
     A possibilidade de comunicação entre as disciplinas é de fundamental importância no processo de formação das crianças e até auxilia na fixação do conteúdo. Nesse sentido, o teatro ajuda, facilitando, o ensino-aprendizagem, pois, na elaboração do texto conteúdos relacionado a língua portuguesa são importantes, o cenário pode ser trabalhado na disciplina de estudos sociais, e a pesquisa pode ser desenvolvida na área de ciências. Claro, tudo depende do tema a ser encenado. Para tanto, é importante que o professor esteja consciente do teatro como um elemento fundamental na aprendizagem e desenvolvimento da criança e não como transmissão de uma técnica.
     É recomendáveis que os educadores levem aos alunos textos dramáticos e fatos da evolução da arte teatral para adquirirem uma visão histórica e contextualizada, esses textos devem ser lidos ou recontados com a para estimular a criação de situações e palavras.
     Como foi visto é de fundamental importância a existência dessa disciplina na escola. Ela é um dos fatores que ditará o maior ou o menor sucesso do aluno na aquisição de conhecimentos. Poderia arriscar dizer que as instituições que levam-na a sério, de acordo com os Pcns, possuem destaque no cenário educacional.

 

 

Conhecendo Célestin Freinet.

   Célestin Freinet, no século XX, contribuiu significativamente para a reformulação da pedagogia de sua época, criticava a escola tradicional. Cria, na França, o movimento da escola moderna, onde objetivava desenvolver um processo educacional popular.

   Certamente, seus ideais de educação sofreram influências da vida simples que tivera no vilarejo em Gars, no sul da França. Lá teve uma infância rural - onde fora pastor de rebanho até os 13 anos-, aproximou-se do modo de produção artesanal e era membro de uma família de oito filhos cujos pais eram agricultores. Desde os primeiros anos da infância apresentava dificuldades para se adaptar ao sistema educacional francês, como chegou a relatar em suas obras. Por volta do ano de 1896, em sua adolescência, iniciou o curso de Magistério-nesse desenvolveu pensamentos humanistas, políticos e sindicalistas-.

   Durante seus estudos de pedagogia, estoura a Primeira Guerra Mundial. Ao passo que teve que interromper o processo de formação para alistar-se, conforme a constituição da época obrigava, nesse momento é recrutado para ir defender seu país, a França. Durante a Guerra, Freinet, teve uma lesão pulmonar causada por gases tóxicos, ao passo que para o resto da vida perambulou por diversos hospitais sem esperança de cura. Esta experiência o transformou em um pacifista convicto, ou seja, defendia a paz universal pelo desarmamento das nações.

   Retornando da Guerra, foi nomeado professor adjunto, mesmo sem ter concluído sua formação, em uma classe rural na cidade de Bar-sur-loup no sul da França. Mesmo sem experiência no magistério.Neste momento começa a fazer os primeiros experimentos de seu futuro modelo pedagógico. Através desse contato com os alunos, começa a descoberta das práticas educacionais que originarão em atividades voltadas para o interesse das crianças. Nas próximas páginas, desse trabalho, desenvolveremos com mais detalhes a proposta pedagógica de Célestin.

   Por ocasião dos ferimentos do pulmão, já não conseguia falar por períodos longos, então, para auxiliar a atividade de ensino comprou um tipógrafo. Com esse imprimia textos para os alunos e jornais da classe. As próprias crianças em pequenos grupos compunham seus trabalhos, discutiam e editavam antes de apresentarem os resultados as classes. Os jornais eram trocados por outras escolas, gradativamente os textos dos grupos substituíram livros didáticos convencionais.

   Conhecedor das idéias da escola Nova, ele buscava caminhos de adaptá-las ao trabalho com crianças humildes, criou uma cooperativa com os professores de sua aldeia, essa suscitou o movimento da Escola Moderna na França. Em 1925, conheceu a artista plástica Élise, que começou a trabalhar como sua ajudante e um ano depois se tornou esposa. Juntos criam a revista “La gerbe” (O Ramalhete) composta de poemas infantis e, ainda, escrevem o livro “A imprensa na Escola”.

   Freinet foi exortado do cargo de professor em Sant Paul de Vence por conta de seu método de ensino que iam de encontro com as políticas de educação nacional, acrescentado a isso havia um clima de desconfiança, considere que esse período está situado, em um contexto histórico, entre guerras, devido ao grande número de correspondências trocados.

   Pouco antes de estourar a Segunda Guerra Mundial, Freinet e Élise abriram oficialmente sua própria escola privada e laica, criam novas pedagogias, porém, o Ministério da educação recusa-se a reconhecê-la. Juntos com Rolland lançam o projeto frente da infância. Durante a Segunda guerra mundial, a escola é desativada, Freinet é preso e fica seriamente doente. Enquanto se estabelecia, escreveu a maior parte de sua obra.

   A Pedagogia Freinet centrava-se na valorização da vida comunitária, nos interesses dos alunos e na compreensão.Tanto é que em sua vida criou o ICEM uma cooperativa que reuniu 20 mil participantes. Nesse momento preocupou-se com o número de crianças em sala de aula, então, lançou uma campanha nacional que defendia a idéia de 25 alunos por classe.
    Em 1966, morre em Vence, na França, o Professor primário que se distinguiu por criar um movimento em prol da escola popular. O contato com o campo e a liberdade de atuação do professor eram pilares do incipiente modelo pedagógico de Freinet. Ele notou que era grande a dificuldade de enquadrar os alunos ao rigor dos programas, dos horários e do confinamento dentro das salas. Percepção que o motivou a mudar o modelo de aula entre quatro paredes

  

Técnicas Pedagógicas de Freinet.

 


    Estimular a capacidade de criação e expressão, longe das restrições impostas pelas escolas tradicionais são traços observados na pedagogia de Freinet. Ele defende a proposta que a educação deve proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real. Não é por acaso esse pensamento, afinal, sua carreira docente teve início construindo os princípios educativos de sua prática. Um outro traço da pedagogia de Freinet, que também está diretamente relacionada a historia de sua vida, é o cooperativismo onde ele diz: "ninguém avança sozinho em sua aprendizagem, a cooperação é fundamental”. Convido-te a viajar nessa leitura a fim de que entenda um pouco mais dos pensamentos desse ilustre pedagogo.

   Freinet vê a criança com um ser autônomo que tem a capacidade de escolher, sob orientação, de acordo com seu próprio interesse as atividades que serão desenvolvidas. Para ele desde o momento em que a criança tem contato direto com determinados fatos, elas possuem a capacidade de opinar e fazer críticas a esses que lhes foram expostos. Ele vê esse fato como uma forma de desenvolver o raciocínio, tendo por base tudo que lhe é proposto. Para tanto, o livre arbítrio deve ser respeitado, assim como as suas escolhas e recusas, porém, sempre é preciso analisar os motivos dessas.

    Nessa pedagogia a criança e o adulto possuem traços semelhantes. Ambos não gostam de imposições autoritárias, não gostam de uma disciplina rígida-quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa-, não gostam de fazer determinado trabalho por coerção, pelo contrário, gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa, não gostam de trabalhar sem objetivo-atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participam -e ambos precisam de motivação para o trabalho. Ou seja, a criança é da mesma natureza que o adulto.

    Nessa metodologia educacional, cabe ao educador ajudar o estudante a desenvolver e aprimorar a consciência moral primitiva – que, segundo a teoria, toda criança, assim como o adulto, possui dentro de si-. Ou seja, o trabalho pedagógico para Freinet consiste em desenvolver a capacidade criativa e imaginativa que cada pessoa tem dentro de si. Claro que Freinet deixa claro que o produto final desse trabalho seja ele qual for, deve ser respeitado e valorizado. Mas como desenvolver essa virtude interior?

    Freinet percebeu que existia uma separação entre o cotidiano e a vida na escola, percebeu, ainda, que as crianças demonstravam interesse pelo mundo social e que esses eram superiores ao interesse pelos textos escolares. Surge nesse contexto às aulas -passeios, essas tinham por objetivo trazer motivação e aproximar a escola da vida e, por conseqüência, a prazerosa e ativa aprendizagem. De maneira bem simples essas aulas funcionavam da seguinte forma: o professor sai com as crianças para passeios e ao voltar, cada um conta a sua visão da experiência. Em vez de se priorizar a perfeição e a correção gramatical do material, dá-se grande estímulo à criatividade dos alunos. Assim, um gafanhoto visto por um aluno era o ponto de partida para uma aula sobre insetos; o tecelão é o pretexto para aprender a necessidade de medir os tecidos.

    As aulas extraclasses abriram espaço para outras formas de trabalho em aula. A primeira era a formulação de um jornal onde as próprias crianças elaboram os textos para posteriormente, após uma correção – que pode ser feita coletivamente, ou como autocorreção, onde os “erros” são vistos como mecanismos de trabalho que a criança, percebe o próprio equívoco-, serem divulgadas as comunidades escolares -nascia, então, a imprensa escolar-. A segunda forma de trabalho está relacionada ao Livro da Vida, - diário de classe que as crianças registravam seus textos, desenhos e pinturas-essa atividade permite que as crianças expressem suas experiências vividas em aulas e nas aulas-passeio ou ainda, seus diferentes modos de verem a vida. Onde entram os livros didáticos nesse contexto?

    Freinet defendia que os conteúdos e conceitos das diferentes áreas do saber devem ser discutidos de forma viva e integrados. Criticava duramente os livros didáticos, pois, não fazem parte da realidade da criança. Célestin prefere trabalhar, então, com fichários de consultas que são construídos em sala de aula por professores em interação com a turma. Nesse fichário há, exercícios de calculo, história, ciências, ortografia e gramática. Mas, é claro que o currículo escolar é o ponto de partida para o desenvolvimento das atividades em ambiente de ensino.

    Uma outra técnica, na pedagogia aqui apresentada, são os textos livres. Esses são à base da livre expressão-pode ser um desenho, um poema ou uma pintura-da criança que determinam a forma, o tema e tempo para a realização. Percebe-se que os alunos se organizam para escolher as estratégias de desenvolvimento das atividades que podem ser realizadas em grupos, duplas ou individualmente. É feliz notar que o Plano de aula, na pedagogia de Freinet são elaborados em interação com a turma e o professor. Esse plano é documentado em fichas onde são registradas as realizações da semana.

    Percebe-se que a criança tem grande autonomia, tanto que as mesmas registram os resultados dos seus trabalhos em fichas de auto-avaliação. Essas permitem constantes comparações entre os trabalhos realizados, a fim de desenvolver uma avaliação regular, ou seja, uma auto-avaliação.

    Célestin vê a aprendizagem da vida do ponto de partida da cooperação. É uma das primeiras condições da renovação da escola, pois, tem que haver respeito à criança e, por sua vez, a criança tem que ter respeito aos professores, para a feitura, juntos de um determinado trabalho; isso é cooperativismo. Só assim é possível educar dentro da dignidade, porque haverá um desenvolvimento do respeito no pensar do próximo. A educação não é obtida através do estudo de regras e leis, mas, sim pela experiência, ao passo que a escola é o primeiro ambiente social freqüentado pela criança, logo é nessa que deve haver propostas pedagógicas que valorizem o respeito do individual. Talvez isso justifique o seguinte pensamento de Freinet: “A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas”.


Freinet: Educação para interferir no social.

Célestin Freinet, grande humanista, pode ser considerado o pioneiro de uma das principais propostas pedagógicas do nosso século. Considerava que o ensino reforçava a dominação, alienando e dando continuidade à desigualdade social proporcionada pelo sistema capitalista. Para ir de encontro a isso ele pensa em uma pedagogia dividida em 4 partes.

Cooperação – como forma de construção social do conhecimento.

Comunicação – como forma de integrar esse conhecimento.

Documentação – registro da história que se constrói diariamente.

Afetividade - elo entre as pessoas e o objeto.

   Freinet lê e relê os filósofos que influenciaram a pedagogia, bem como os escolanovistas, não pretendendo adquirir conhecimento simplesmente, mas tentando encontrar base para transformação da pratica docente tradicional. Sua originalidade estaria na forma como assimilou e utilizou estes ensinamentos. Assim, observando, experimentando e comparando, Freinet criou bases de um movimento conhecido internacionalmente – a FIMEM (Federação internacional dos Movimentos da Escola Moderna), que trata de uma associação que desenvolve a cooperação e a troca de prática pedagógica em todos os continentes, inspirado na prática pedagógica popular e na educação iniciada por Freinet. Movimento esse que é reconhecido pela UNESCO.

    Ele propõe um novo papel para a escola e para o professor. Onde é colocados a disposição das crianças os instrumentos e os meios para que depois, estas crianças organizem, classifiquem e aumentem as suas experiências, situações desafiadoras, despertando a curiosidade e os levando a pensar. Sempre tentando, antes, resolver o problema, tendo como ponto de partida o estabelecimento de um raciocínio a respeito do que lhe é importante.

    Sua proposta tem como referência o trabalho e a livre expressão, o que significa inverter a metodologia. A experimentação é o centro em torno do qual devem girar todo o desenvolvimento infantil.

    Com esses pensamentos, em 1968, seus seguidores redigem a Declaração da Escola Moderna:

1- A educação é a construção do ser humano e não acúmulo de conhecimentos.
2- Nós nos opomos a qualquer doutrinação.
3- Recusamos a ilusão de educação que se baste a si mesma, à margem das grandes correntes sociais e políticas que a condicionem.
4- A escola de amanhã será a escola do trabalho.
5- A escola estará centrada na criança que, com nossa ajuda construirá sua própria personalidade.
6- A investigação experimental da base, cooperativamente, a condição primeira de nosso esforço de modernização escolar.
7- Os educadores da Federação são os únicos responsáveis pela orientação e exploração de seus esforços cooperativos.
8- Nossos movimentos da Escola Moderna estão preocupados em manter relações de simpatia e de colaboração com todas as organizações que atuam no mesmo sentido.
9- Nossas relações com as administrações são de colaboração com os colegas e de liberdade de ação no interior do movimento.
10- A Pedagogia Freinet é, por essência, internacional.

   Enfim, para ele político e social estão entrelaçados com o educacional, mostrando que a prática em sala de aula pode combater a evasão e o fracasso escolar e também contribuir para formação de futuros trabalhadores esclarecidos que possam defender seus próprios interesses. Tendo como desvendar as “mentiras” veiculadas no contexto dominante. Preconiza a escola onde a criança do povo pode se adaptar, sem divisões de classe social que alimentam a alienação.

    Em suma, para Freinet a principal finalidade da educação é o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, preparando-o para viver na sociedade atual tornando-a melhor, mais avançada em conhecimento e valorizando o humano em uma eterna busca. Não sendo necessário que o professor tenha uma ampla bagagem teórica, mas sim que eles “rejeitem os chapelões e as saias pregueadas de uma época que ficou para trás, pondo-se ousadamente a escuta da nova vida, adaptando-se a esta, a seu espírito, e suas técnicas... atualizar-se!” (Freinet,1966)