GESTÃO EDUCACIONAL
Só existirá democracia no Brasil
no dia em que se montar no país à
máquina que prepara as democracias.
Essa máquina é a escola pública. (ANÍSIO
TEIXEIRA
RESUMO
SANTOS,
Jonas Sales. GESTÃO EDUCACIONAL. Monografia (Licenciatura em Pedagogia)
Universidade Candido Mendes Tijuca. Rio de Janeiro, 2011.
Este trabalho tem o
objetivo de fazer um estudo sobres à discussão educacional ocorrida a partir
década de 1990. Busca explicitar como a atuação dos gestores escolares deveria
se dá. Também, fazem parte desta monografia a comparação dos interesses da
gestão dos educadores com os interesses dos organismos internacionais. Os
textos presentes explicitam, ainda, a motivação de investimentos de empresas
privadas – transnacionais - na educação. A partir desse apanhado, essa pesquisa
apresenta duas concepções de gestão: democrática e autocrática. Sublinha-se que
políticas públicas, gestão da educação e os investimentos privados na educação
são, nas entrelinhas, orientados e inter relacionados pelo auxílio dos
organismos internacionais.
Palavras- Chave:
Reestruturação produtiva –
Neoliberalismo - Gestão democrática
Para facilitar sua pesquisa os artigos-capítulos, foram numerados. Conforme será visto abaixo, cada unidade do trabalho vai aprofundando o dito no capítulo anterior. Contudo, sinta-se a vontade para ir ao ponto que for de maior interesse. Bons estudos. (Palavra do pesquisador)
1- INTRODUÇÃO
2- CONCEITOS ADMINISTRATIVO
E ESTADO
3-
BANCO MUNDIAL E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
4-
GESTÃO DA EDUCAÇÃO
5- CONCLUSÃO
6-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- INTRODUÇÃO
Etimologicamente
a palavra educar vem do Latim, “educare”, que significa conduzir para fora, ou
seja, preparar o indivíduo para o mundo. Esse ato ou efeito de levar para fora
de si precisa preocupar-se com desenvolvimento global do educando, isto é,
ajudar a aumentar as faculdades físicas, moral e intelectual, deixando-o livre
para construir suas ideologias, reflexões e conclusões.
Das três
faculdades citadas acima, que fazem parte de uma educação ideal, esse trabalho
desenvolveu um estudo relativo ao intelecto. Não do indivíduo particularizado e
nem no campo conceitual da psicologia, mas sim do intelecto de como a relação
trabalho - educação se constrói, a partir de uma abordagem conceitual histórica
de como é administrada, pensada, articulada e gerenciada a educação. Assim
sendo, os textos presentes nesse trabalho partem de concepções históricas da
relação mercado de trabalho e educação.
Ao ler artigos
em história da educação, sociologia da educação e história da educação
brasileira, nós percebemos o quanto à educação é um campo de disputa para a
hegemonia econômica e política das classes sociais. Na Grécia Antiga, por
exemplo, a educação era destinada a uma pequena parcela da sociedade. Somente a
elite (homens livres), tinha direito a ela. Na época a ideologia dominante
consistia em ensinar uns poucos a governar, então, o homem bem educado tinha de
ser capaz de mandar e fazer-se obedecer. Tal pensamento está diretamente ligado
à divisão social grega: modelo elitista (tinham “direito” a democracia) e
excludente (trabalho escravo).
Outro período,
onde é evidente a relação entre história, modelo social e educação é a Idade
Medieval, marcada pelo grande poderio da Igreja Católica. Essa tinha objetivos
educacionais doutrinários, ou seja, manter a massa dócil e conformada com o
poder vigente. Logo, era necessário um projeto político pedagógico para a
classe trabalhadora (catequese, ensino dogmático, educação oral, cultura da
luta da sobrevivência) e um projeto político pedagógico para o nobre (educação
humanista e filosófica, formação musical e guerreira).
E ainda, houve
um período onde as camadas populares pressionaram a elite dominante
reivindicando uma educação pública. Momento histórico conhecido como
Iluminismo. Assim sendo, o Estado institui a obrigatoriedade escolar, nascem,
então, as escolas públicas. Porém, os filhos dos burgueses não estudavam nessas
escolas, tinham seus professores particulares. Na época, educação pública tinha
como objetivo oculto, construir estoque de mão de obra. Afinal, se é dada uma
educação de qualidade para a massa popular, essa poderia prejudicar o
democrata.
Com os
exemplos citados acima, é percebido que a relação social é unilateral, ou seja,
vem de um grupo específico para a classe dominada. A esse respeito questiona-se: Quem, na década
de 1990, época em que freqüentava a escola primária Municipal, era ou é
responsável por manter essa unilateralidade?
Contudo, essa
pesquisa teve como objetivo conhecer estudos sobre gestão da educação;
relacionar interesses dos grupos sociais dominantes com a formação intelectual
dos estudantes; comparar concepções de gestões educacionais. O limite dessa
pesquisa é compreendido entre as décadas de 1980 e 1990.
As proposições
que fazem parte desse trabalho são as de que após Segunda Guerra Mundial, com o
surgimento de Organismos Internacionais – Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional - a gestão da educação passou a ser vista como alternativa ao
processo político administrativo da educação, que tem como estratégia garantir
as exigências da economia Globalizada.
Acreditamos
que por trás da gestão, o Banco Mundial financia as políticas que privilegiam
mudanças no setor educacional para obter como resultado satisfatório às
demandas do setor produtivo, ou seja, preparar o sujeito para o mundo do
trabalho. Conseqüentemente, aspectos fundamentais como cultivo da
solidariedade, democracia, igualdade, reflexão de determinados temas e
cidadania são deixados em segundo plano, perdendo assim o sentido do “educare”.
Para
investigar as premissas e atingir os objetivos, o
trabalho foi elaborado através de uma pesquisa bibliográfica e de um estudo
comparativo de conceitos empresariais e educacionais. O estudo bibliográfico
foi constituído de uma seleção das teorias críticas da gestão da educação que
foram estudadas de modo analítico, explicitando o pensamento de seus diversos
autores. Em auxílio à pesquisa foram usadas ainda, a Constituição Federal, a
LDB 9394/96 e a mídia impressa.
A
justificativa para esse trabalho passa pela idéia de que como futuros gestores
de instituições de ensino, precisamos estar bem formado quanto à origem e os
objetivos da educação a fim de formar uma concepção comprometida com o processo
social e com a formação de indivíduos críticos.
Todas as
exposições contidas nessa pesquisa foram analisadas e refletidas de tal modo
que nós possamos aproveitar o melhor da autonomia da escola para a construção
de cidadãos comprometidos com a dignidade social. Ser gestor educacional é ter
a responsabilidade de democratizar o país aproveitando os impasses políticos
para construir conhecimento crítico. Assim , essa pesquisa tem importância para
a nossa reflexão, como futuro gestor de escola pública, acerca das políticas
educacionais e suas atuações no campo pedagógico, em se tratando de
desenvolvimento global do aluno.
2- CONCEITOS ADMINISTRATIVO E ESTADO
O texto que se
segue parte dos estudos de Bruno (2002), professora doutora do departamento de
Administração Escolar e Economia da Educação da faculdade da USP. Para melhor
entender a contextualização e o papel de um gestor é necessário atentar para os
conceitos que seguem.
Bruno, em seu
artigo “Poder e administração no capitalismo contemporâneo”, cujo objetivo é
apresentar um quadro para analisar as atuais formas de organização e de
exercício do poder das organizações políticas e econômicas internacionais,
aponta para a necessidade de atentar para a reorganização capitalista mundial.
Para alcançar esse objetivo e facilitar o entendimento, ela diz ser necessário
considerar três aspectos: economia globalizada, a transnacionalização das
estruturas de poder e a reestruturação produtiva.
A autora ao
apresentar o primeiro aspecto, globalização da economia e o definir como
processo de internacionalização do capital, argumenta que desde o início o
capitalismo nunca foi um sistema que apresentasse características nacionais. O
fundamento da política do capital implica na articulação de processos
produtivos dentro das nações com projetos implantados no exterior das
fronteiras nacionais.
Essa
articulação assume dinâmicas diferentes no decorrer do processo histórico. A
partir da Segunda Guerra Mundial, houve uma aceleração do capital mundial
graças a uma maior integração entre as multinacionais e os processos econômicos
particulares dos países. Bruno vai dizer que
a atuação
das grandes empresas de capital predominantemente norte-americano neste período
é decisiva, pois foram elas que primeiramente começaram a estreitar todo o
mundo numa nova teia de relações.
(2002:26)
Neste período,
as políticas sociais e econômicas internacionais visavam construir os alicerces
para a internacionalização econômica, para a união das fronteiras e o
relacionamento dos governos e suas instituições na esfera internacional. Com
esses objetivos foram criados organismos internacionais tais como: Organização
das Nações Unidas (ONU); Fundo Monetário internacional (FMI); Banco
Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); etc. A partir dos
objetivos citados esperava-se que esses organismos atuassem como mediador,
negociando, em instâncias amplas, os interesses particulares dos Estados –
Nações a fim de promover acordos entre esses.
A forma
de internacionalização do capital, portanto, prevalecente neste período,
relacionava sistemas econômicos cuja ordenação pressupunha a existência de
poderes políticos nacionais ou plurinacionais, que tinham a capacidade de
exercer ações de regulação macroeconômica. (BRUNO, 2002:17)
Transnacionalização
da economia é o segundo aspecto considerado por Bruno para entender as atuais
características do capitalismo contemporâneo e as organizações políticas. Ao
contrário do primeiro aspecto apresentado, esse se fundamenta na valorização
das ações empresariais em detrimento das ações dos Estados - Nações. A
transnacionalização não tem como base a intervenção econômica dos governos e
dos seus inter-relacionamentos, pelo contrário ignoram o princípio de
nacionalidade.
A aceleração
da concentração do capital na mão dos empresários teve como conseqüência o
enfraquecimento do papel dos Estados, pois as empresas assumiram funções
econômicas e políticas que as deram poderes acima dos governos das nações. A
concentração de capital permitiu às maiores empresas a se relacionarem
diretamente com a vida política, social e econômica dos países, o que
secundarizou o papel dos Estados como coordenador dessas áreas.
Antes de ir
mais além nesse assunto, é necessário dar os conceitos do que vem a ser
multinacionais, internacionais e transnacionais. A diferenciação desses termos
possibilitará o melhor entendimento das formas de organização atuais dos
Estados–Nações e seu papel.
Multinacional
é relativo ou pertencente a muitos países ou nações, ou ainda, empresa que
opera em vários países. Segundo explicação de Bruno, o termo multinacional
indica a multiplicidade de nacionalidades em inter-relação. Assim, empresas
multinacionais possuem uma atuação em várias economias nacionais ao mesmo tempo
e que são gerenciados a partir de sua sede.
É interessante
dizer que embora na prática a negociação entre Multinacionais e Estados não
eram realizadas em par de igualdades, na teoria ela reconhecia a soberania do
Estado Nacional, pois, era um meio de tranqüilizar a burguesia em relação à
concorrência com os produtos vindos de fora e manter a classe trabalhadora
dividida pelas fronteiras nacionais para evitar o retorno das lutas
internacionais que desencadearam na primeira guerra.
Internacional
é relativo a, ou que se realiza entre nações.
Bruno diz que internacional é o inter relacionamento entre as nações. Os
organismos internacionais –ONU, FMI, BIRD- têm como missão, como dito antes
nesse texto, produzir acordos entre as várias nacionalidades. É importante
notar que segundo as colocações aqui apresentadas e outras que virão, os
organismos internacionais atribuem um corpo ideológico, mas não prático, ao
princípio de nacionalidade.
Tanto o
termo multinacional quanto o internacional pressupõem, portanto, a existência
de nações e, pelo menos no plano formal dos princípios, a existência de
soberanias políticas consubstanciadas no aparelho de Estado Nacional. (BRUNO,
2002:18)
Se por um lado
há um respeito, mesmo no campo ideológico, da soberania dos Estados nas duas
visões econômicas e políticas apresentadas, por outro lado o termo
transnacional apresenta uma postura distinta dessas. Uma organização
transnacional não estabelece uma inter relação entre as nações. Não reconhece o
princípio de nacionalidade. Excede os limites políticos e econômicos dos
Estados - Nações.
A partir disso,
Bruno (2002) diz que atualmente é mais indicado trabalhar com o termo
transnacional para designar as grandes empresas que antes eram denominadas
multinacionais. Bruno ainda vai dizer que estas empresas apresentam como
aspecto mais importante a sua visão e ação globalizantes, já as multinacionais
apresentam como aspecto relevante o seu volume de negócios. Se nas
multinacionais a sede empresarial serve o conjunto, na transnacional as partes
devem servir a sede.
Sua busca e reivindicação por eficiência crescente é baseada na
conceituação do planeta como uma unidade econômica única, cujas partes são
necessariamente interdependentes; o que lhes permite a transferência de
dinheiro e recursos materiais e humanos, de um continente para o outro,
transcendendo as fronteiras e transformando profundamente as características
dos Estados Nacionais. (RATTNER in BRUNO, 2002: 19)
“A
internacionalização do capital alcançou um estágio superior e transformou-se em
transnacionalização” (BRUNO, 2002:20). Essa transnacionalização é impulsionada
pelas tecnologias de informação e de telecomunicação, porque possibilitam os
grandes conglomerados econômicos a estudarem e processarem dados das nações, de
tal forma que conseguem cobrir todo o espaço econômico global, o que aumenta a
probabilidade de acerto em investimentos, pois os locais são bem conhecidos por
eles, consequentemente, diminui o percentual de efetuarem um mau negócio. Em
palavras mais breves, as transnacionais sabem onde, como e por que investirem
em determinados países e situação social. A citação a seguir deixa claro o
motivo do grande conhecimento do globo terrestre dessas organizações:
Controlando metade da economia e do comércio mundiais, algumas
centenas de conglomerados e corporações transnacionais ampliaram decisivamente
a área de suas operações, mediante a globalização do design, da produção,
distribuição e consumo de bens e serviços, criando redes de empresas e
operações interdependentes, para onde se desloca a tomada de decisões e a
gestão da economia mundial. (BRUNO, 2002:19)
A grande
maioria das empresas transnacionais é de países industrializados. Por já terem
conquistado em seus países os mercados internos, buscam novos mercados
consumidores. Os países que possuem infraestruturada, matéria prima, energia,
isenção de impostos e mão de obra barata e qualificada são por elas
disputados. Os países também disputam
entre si para terem essas empresas em seu território, pois, geram novos postos
de trabalho e impulsionam a industrialização local. Esta nova forma põe em
questão a possibilidade dos governos conduzirem uma política monetária
própria. As transnacionais têm uma
capacidade de acumulação e transferência financeira, assim, elas desenvolvem
estratégias tanto nos países que possuem filiais quanto naqueles em que têm
sede. Tendo em vista essa dualidade de
interesses, Bruno diz que:
São estas empresas operando em redes as únicas instituições
capazes de coordenarem um processo econômico que se mundializou, enquanto os
Estados Nacionais “locais” encontram dificuldades crescentes para manter certos
mecanismos de controle de suas economias e para garantir aos cidadãos
estabilidade econômica, política de emprego, poder aquisitivo, proteção contra
riscos ambientais (...). Este é um dos fatores centrais da crise do Estado do
Bem-Estar e que tem sido menos referido nas análises sobre o tema.
(BRUNO.2002:20).
“Antes de
prosseguir, é importante assinalar que hoje não é possível haver
desenvolvimento fora desse quadro de economia internacionalizada” (BRUNO, 2002:20).
A economia é o fator que tanto difere quanto integra os Estados - Nações e as
diferenças sociais delimitam as fronteiras nacionais. Contudo, é importante
sublinhar que na estrutura global, onde as várias economias estão juntas, não
quer dizer que exista uma homogenização econômica e social, ao contrário o que
ocorre é a uma nova forma de desigualdade em instância mundial. Portanto,
nacionalmente há distintos níveis de produtividade, de capacidade de inovação,
de exploração de trabalho etc.
Por isso, com freqüência, os
investimentos mais inovadores e produtivos são canalizados para as regiões onde
a força de trabalho é mais qualificada e a infraestruturada melhor desenvolvida
do ponto de vista técnico e social. (BRUNO, 2002:21)
O que
percebemos, nas entrelinhas, são alterações na estrutura de poder. As
transnacionais se fortalecem devido a sua visão globalizante que permite a
concentração de capital, graças a política de padronização dos Estados Nações
em um bloco econômico mundializado originado das formações das redes que
integram todo o mundo. Bruno (2002) vai dizer que “desenvolve-se uma estrutura
de poder de abrangência supranacional não juridicamente reconhecida”.
É importante
reforçar, como dito antes nesse trabalho, que as transnacionais possuem os mecanismos
tecnológicos de informação, design e de formação que lhes possibilitam o
conhecimento completo das áreas de bons investimentos. Fato esse que dão o
poder de orientarem os grandes grupos mundiais, ou seja, os organismos
internacionais vêem essas empresas como interlocutores da situação mundial,
secundarizando os governos nacionais. Aqui cabem alguns questionamentos: Qual
seria o poder do Estado? Quais suas atribuições? Como devem agir? Baseados em
que ou em quem devem nortear suas ações políticas? As respostas dessas
questões, na atual organização mundial do poder, são limitadas aos interesses
empresariais. Cabe grifar aqui, mais uma vez, que vigora nesse contexto, uma
nova estrutura de poder.
A essa nova estrutura de poder, Bernardo denomina
Estado Amplo, em contraposição ao Estado Nacional, por ele definido como Estado
Restrito. O sistema político que daí emerge, segundo o autor, é o
Neocorporativismo informal ( BRUNO, 2002: 23)
O
corporativismo clássico, mesmo estando na demagogia política e econômica,
respeita as decisões tomadas pelos Estados Nacionais. Nesse as empresas não
possuem tanto acúmulo de capital e os sindicatos reivindicam seus interesses no
Estado Nacional. O corporativismo clássico compreende, como apresentado no
início desse texto, o conceito, a política, a economia das multinacionais.
Entretanto, no
neocorporativismo, o Estado Nacional torna-se Estado Restrito, isto é,
operacionaliza os interesses empresariais e os gestores dos sindicatos
burocratizados definem acordos diretamente com os empresários, deixando em
segundo plano o Estado Nacional.
Informal
porque embora na prática aconteça a inversão de papel descrita acima,
juridicamente não é estabelecida, ou seja, não há como contestar essa inversão
de responsabilidades. Isso torna essa estrutura de poder forte, pois age
politicamente, porém não assume as responsabilidades políticas.
“Outro aspecto importante dessas transformações é
que, embora o aparelho do Estado tenha sido desde a sua origem um aparelho de
poder instrumentalizado pela classe capitalista, ele o foi de diferentes
formas. Até há poucas décadas atrás, o nível de concentração de capital não
havia permitido ainda as maiores empresas assumirem diretamente funções
políticas. O aparelho do Estado Central, portanto, ocupava um lugar de destaque
tanto na coordenação da economia, quanto no que diz respeito à produção e
manutenção nas condições gerais de produção e de controle social. O Estado era,
então, o local onde as decisões eram tomadas. Hoje as grandes decisões são tomadas
fora de suas estruturas formais. O processo decisório decorre diretamente dos
centros do poder do Estado Amplo, e o Estado Nacional só é acionado a
posteriori para operacionalizar e para implementar estas decisões e
legitimá-las do ponto de vista jurídico” (BRUNO, 2002: 24)
O conceito de
neocorporativismo ganha força quando as transnacionais investem na mídia, nas
formas de lazer e entretenimento, na cultura e, principalmente na educação,
pois, esses veiculam valores éticos, culturais, formas de disciplinas e
comportamentos padrões. Diante de toda a
realidade econômica a preocupação das empresas sugerem uma padronização social
e política (não econômica) para facilitar o controle da ação coletiva.
A crise do
modelo Fordista de produção, a reorganização mundial da economia e do processo
produtivo e as mudanças tecnológicas colocam à educação problemas novos. É
preciso formar mão-de-obra polivalente, flexíveis, competentes, competitivas,
com qualidade total e que saiba trabalhar em equipe.
As novas formas
de sociabilização do capital, visando estabelecer um novo padrão de acumulação
levaram o surgimento de novos conceitos empresariais: Globalização, integração,
flexibilidade, competitividade, qualidade total, participação, pedagogia de
qualidade, educação geral visando à formação polivalente. Percebe-se que esses
conceitos empresariais se encontram com os conceitos educacionais pretendidos
com a nova ordem econômica mundial.
Os novos
conceitos relacionados ao processo produtivo, organização do trabalho e
qualificação do trabalhador aparecem justamente no processo de reestruturação
econômica, num contexto de crise e acirrada competitividade intercapitalista e
de obstáculos sociais e políticos às tradicionais formas de organização da
produção. A integração, a qualidade e a flexibilidade constituem-se nos
elementos chaves para dar os saltos de produtividade e competitividade.
(FRIGOTTO, 2000:146).
Esses
conceitos buscam otimizar o tempo, o espaço, a energia, aumentar a
produtividade, a qualidade dos produtos, o nível de competitividade e,
conseqüentemente a taxa de lucro das grandes empresas. Segundo Frigotto (2000)
a tecnologia, que está baseada na microeletrônica, mediante a informatização e
a robotização, possuí grande responsabilidade na mudança da forma produção.
Conseqüentemente a reação do trabalhador com a máquina sofre profundas
modificações. Assim sendo, com auxílio da teoria do capital humano, fica fácil
compreender a relação entre tecnologia, empresas e formação humana.
“Os
grandes mentores desta veiculação rejuvenescida são o Banco Mundial, BID,
UNESCO, OIT e os organismos regionais e nacionais a eles veiculados. Por essa
trilha podemos perceber que tanto a integração econômica quanto a valorização
da formação básica geral para formar trabalhadores com capacidade de abstração
polivalentes, flexíveis e criativos ficam subordinados a lógica do mercado, do
capital e, portanto da diferenciação, segmentação e exclusão” (FRIGOTTO,
2000:145).
No próximo capítulo, aprofundaremos a intensa relação entre os
organismos internacionais com a educação. Veremos o quanto é interessante para
as transnacionais e o Banco Mundial, nesse contexto de redefinição da
metodologia de produção, incentivarem uma educação flexível, com poucos gastos
e visando a profissionalização. No capítulo três desse trabalho, encontraremos
detalhadamente a explicação da teoria do capital humano relacionando-a com o
setor social responsável pela reflexão crítica da sociedade.
3- BANCO MUNDIAL E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
Na história, a
educação sempre foi um campo de disputa. Não podia ser diferente, pois, ela
determinou e determina, ao longo dos séculos, as relações sociais, aliás, ela
não só constitui as interações da sociedade como é constituída por elas. Essa
parte do trabalho objetiva, então, se aprofundar na história das questões
relacionadas ao processo produtivo e processo de trabalho em relação com
educação. De forma ampla, buscaremos apresentar a função social do processo
educativo na produção e reprodução das relações sociais. De forma específica,
exporemos a relação entre a cultura econômica social, o processo de produção e
a divisão do trabalho com o processo de formação humana. Nossa análise
histórica partirá da seguinte citação:
Além da reprodução, numa escala ampliada, das
múltiplas habilidades sem as quais a atividade produtiva não poderia ser
realizada, o complexo sistema educacional da sociedade é também responsável
pela produção e reprodução da estrutura de valores dentro da qual os indivíduos
definem seus próprios objetivos e fins específicos. As relações sociais de
produção capitalista não se perpetuam automaticamente. (MÉSZÁROS apud FRIGOTTO,
2000:26)
Ao ler o
fragmento acima, percebe-se que a educação é um dos campos responsáveis pela
perpetuação de valores. Historicamente os trabalhadores possuem uns saberes
técnicos, sociais e ideológicos destinados ao trabalho, isto é, são educados
para responderem as demandas do capital. Ou seja, os conhecimentos, os valores,
as atitudes que são pautadas nos interesses sociais são reforçados pela
educação, essa por sua vez encontra-se cercada de interesses políticos,
econômicos e culturais. Frigotto (2000) citando o trabalho de Gryzybowski
(1986) diz que “a educação é antes de mais nada, desenvolvimento de
potencialidades e a apropriação de “saber social”.
Nesse sentido,
o ideário liberal clássico, que surge da passagem do feudalismo para o
capitalismo e vem se aperfeiçoando até hoje, argumenta que o mercado iguala os
agentes sociais e econômicos e que esses agentes possuem a opção de terem suas
decisões livres. Defende ainda o fortalecimento das ações políticas, da
democracia e da ampliação da livre escolha política. Entretanto, numa
perspectiva mais crítica, o mercado não iguala, pelo contrário, cristaliza
relações classisitas, logo não dá para superar a sociedade de classes pela
democracia e a política, pois, essas são formas capitalistas de manter a
sociedade dividida em classes.
O ideário
clássico liberal entende que a sociedade é formada por fatores e que em
diferentes épocas há fatores que ganham mais relevância. Em um período a
religião, em outro a economia, em um período a política, noutro a tecnologia. O
fator educação, nessa concepção liberal, é subordinado as necessidades do
processo de acumulação de capital, ou seja, regulado pela esfera privada o que
leva a reprodução dos interesses de um grupo social.
A crítica
dessa concepção entende a realidade social como sendo o conjunto de relações
sociais e econômicas com unidades diversas. Essas unidades diversas ordenam a
produção da vida material dos seres humanos, ou seja, essa estrutura social
condiciona as relações sociais. É
percebido que a interação social não é unicamente formatada pela produção, em
outras palavras, a economia isoladamente não define as relações sociais, porque
as relações econômicas estão dentro do conjunto de ralações, ou seja, as
interações econômicas, tais como as outras relações engendram a sociedade.
O ser humano é
psíquico, cultural, político, econômico e ideológico. Portanto, o trabalho não
é fator, mas sim a forma pela qual o homem se forma com todas as qualidades de
ser humano, forma pela qual o homem produz suas condições de existência. Isto
é, o trabalho é para se formar historicamente, culturalmente, ideologicamente e
não para ser formado por ele. A educação também não é reduzida a fator, mas é
uma prática social, uma atividade humana, atividade histórica, forma de
construção de relação social e é definida no conjunto das relações sociais e no
conflito das classes.
O sujeito dos processos educativos aqui é o homem e
suas múltiplas e históricas necessidades (materiais, biológicas, psíquicas,
afetivas, lúdicas). A luta é justamente para que a qualificação humana não seja
subordinada às leis do mercado e a sua adaptabilidade e funcionalidade, seja
sob a forma de adestramento e treinamento estreito da imagem do
monodomesticável dos esquemas taylorista, seja na forma da polivalência e
formação abstrata, formação geral ou policognição reclamadas pelos modernos
homens de negócio.(VEBLEN, apud FRIGOTTO, 2000:31)
A subordinação
da educação aos interesses o capital, historicamente toma formas e conteúdos
diversos, no capitalismo nascente, no monopolista e no transnacional ou ainda
na economia globalizada. Essa relação de
subordinação é de difícil percepção, porém, uma maneira de percebê-la é através
da relação entre sociedade e processo educativo e desse com o processo
produtivo.
Essa submissão
do processo educacional vem em conseqüência da dualidade de classes: os
dirigentes e os trabalhadores. Existe a necessidade de força de trabalho
moldada, pois as novas produções de trabalho dependem dessa mão de obra
fabricada, assim argumentam os liberais conservadores. Por outro lado, as
correntes críticas, que é contrária a esse pensamento, diz que na realidade
existe uma escola formativa, onde os alunos são preparados para governar-classe
dos dirigentes-e por outro lado, uma escola disciplinadora e adestradora -
classe dos trabalhadores. Frigotto (2000), partidário dessa crítica diz que na
medida em que o sistema capitalista vai se solidificando e os sistemas
educacionais se estruturando essa dicotomia vai ganhando força.
Antes de
avançar na análise do processo produtivo se relacionando ao processo
educacional, é importante sublinhar que a segmentação e a fragmentação são
estratégias para sujeitar os processos educativos ao capital. A educação,
então, é definida, nessa concepção, como fator de produção. Tal definição, na
década de 50, levou a Theodoro Schultz a pesquisar a explicação do
desenvolvimento e o subdesenvolvimento dos países. Como resultado de sua
pesquisa Schutltz lançou o livro “A teoria do capital humano”, onde ganhou, em
1968, o prêmio Nobel da economia.
A idéia chave
da teoria do capital humano é: instrução, acrescido de treinamento e somados a
educação resultam na capacidade de produção individual. Isto é, a capacidade de
trabalho e produção individual é potencializada pela quantidade de
qualificação, conhecimento, habilidades e educação. Logo, investir em capital
humano causa mobilidade individual e desenvolve a nação. A teoria do capital humano torna-se a solução
para a desigualdade dos países e entre os indivíduos. (FRIGOTTO: 2000)
A disseminação da ‘teoria’ do capital humano, como
panacéia da solução das desigualdades entre países desenvolvidos e
subdesenvolvidos e entre os indivíduos, foi rápida nos países latino-americanos
e de Terceiro Mundo, mediante os organismos internacionais (BID, BIRD, OIT,
UNESCO, FMI, USAID, UNICEF) e regionais (CEPAL, CINTERFOR), que representam
dominantemente a visão e os interesses do capitalismo integrado ao grande
capital (FRIGOTTO. 2000:41).
Frigotto
(2000) vai dizer que a discórdia não está na concepção da teoria, mas sim na
metodologia. Macroeconomicamente, os métodos são pautados na projeção, na
previsão e na instrução da necessidade de mão de obra. Em uma visão
microeconômica, a ênfase é dada no exame de custos, taxas de retorno, custo
benefício, análises de oferta, demandas e etc. Para Frigotto (2000) esses
aspectos seriam os primeiros para uma melhor analise do impacto da educação
sobre a economia.
No período de
ditadura militar, ocorrido no Brasil, quando houve falta de liberdade política,
quando as decisões eram tomadas em parceria governo e civis que apoiaram o
golpe militar (industriais e fazendeiros e executivos das transnacionais), dois
empréstimos foram concedidos ao ministério da educação brasileira. Empréstimos
esses que vinham de organismos internacionais que eram partidários da teoria do
capital humano e portanto do ideário clássico liberal. O primeiro dos
empréstimos tinha como foco a melhor qualidade do ensino técnico, a segurança
da expansão dessa modalidade de ensino e a formação industrial. O segundo
empréstimo tinha a finalidade sistematizar projetos para a implantação da
reforma educacional brasileira de 1971. (FONSECA: 2002).
É importante
notar que a ênfase desses empréstimos era baseada em fatores que teriam como
conseqüência o crescimento industrial do país e não uma formação
crítico-reflexiva. Assim, com a idéia de educar para o desenvolvimento, a
profissionalização da educação foi privilegiada. A Teoria do capital humano,
então, ajudaria no melhor resultado dos investimentos, isto é, os empréstimos
para educação seriam mais bem aplicados em uma formação técnica.
Em síntese, a
educação brasileira no final dos anos 1970 sinalizava para: definições de
políticas para o plano brasileiro, prioridade nos níveis educacionais iniciais,
enfoque na educação profissionalizante e investimentos em modalidades menos
custosas de ensino.
Para a
concretização destas políticas, foram definidos programas especiais, que
relacionavam educação com o trabalho produtivo, buscando oferecer ensino
profissionalizante ao aluno carente e a ensinar-lhe a transformar o produto de
seu trabalho em renda para si e para suas famílias. (FONSECA: 2002:51)
O Banco
Mundial é um dos organismos internacionais que investiu na expansão da
concepção de educação para a profissionalização. É importante sublinhar que
esse organismo é adapto da visão do desenvolvimento do país integrando capital
e educação. Nos primórdios de sua existência, tinha como missão a reconstrução
dos países devastados durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, em 1980 passou
por uma mudança de papel onde assumiu efetivamente uns discursos humanitários,
pautados na justiça social das nações mais pobres, combate à pobreza, igualdade
e eficiência financeira e social dos países. Para atingir esses objetivos,
defendeu a bandeira de uma atuação eficiente dos setores públicos dos países.
Com as
finalidades surgidas na década de 1980, com a bandeira levantada após a sua
redefinição de papel, o Banco Mundial passou a defender a incorporação de
modelos gerenciais modernos e estabelecimentos de metas realistas para aumentar
a produção dos países e reduzir a pobreza dos mesmos. Para dar conta de tais
objetivos, segundo o Banco, a máquina pública precisava passar por um
aperfeiçoamento. Esse aperfeiçoamento se faz necessário para montar uma
estratégia de melhor investimento nos setores sociais para ajudarem na
produtividade do país. Com esse argumento, o Banco Mundial lança um modelo de
desenvolvimento cuja base estratégica é fazer empréstimos aos países para
investirem em setores sociais economicamente desfavoráveis. A esse respeito
Fonseca (2002) vai dizer que:
A partir
do período pós-guerra, uma nova visão de progresso iria fundamentar a política
do Banco: passou-se a considerar o aumento da produtividade das populações mais
pobres como principal estratégia garantir sua participação nos benefícios do
desenvolvimento. (Pág 48)
Para ficar
mais evidente essa transição do papel do Banco Mundial, historicamente o FMI é
que trabalha por uma incorporação monetária global, que é facilitador do
comércio internacional, que assegura a estabilidade financeira, que se preocupa
com a empregabilidade dos países e com o desenvolvimento dos países, inclusive
com a redução da pobreza. Ou seja, o FMI é, na história, um órgão
internacional, normativo e político. O BIRD era apenas um organismo técnico e
financiador de projetos específicos. É interessante notar, da década de 1970
até os dias de hoje, a mistura de atuação política do FMI e do BIRD.
Ainda
hoje, esta dualidade de papeis existe formalmente: ao FMI cabe estabelecer os
códigos de conduta político-econômico, como a precondição para os créditos de
países, bem como os empréstimos em curto prazo para questões macroeconômicas,
como o equilíbrio da balança de pagamentos, por exemplo. Ao BIRD cabe o
financiamento a longo prazo para projetos específicos, nos diferentes setores
econômicos e sociais. (FONSECA: 2002: 47)
O Banco
Mundial enfatizava investimentos em setores sociais com pouco poder aquisitivo.
Entendia que a colocação do pobre no mercado de trabalho ajuda o
desenvolvimento econômico e político do país e o seu próprio poder aquisitivo,
conseqüentemente aumenta. Porém, essa mão de obra precisava estar saudável e
qualificada. Assim, iniciado nos anos 1960, a educação e saúde passaram a ser
requisitos importantes para a produtividade da população rural e periférica.
A ênfase
recaia na preparação das populações pobres para seu ingresso em setores
tradicionais do mercado, situados em zonas rurais e em periferias dos grandes
centros urbanos. Partia-se do princípio que estes setores eram mais apropriados
para a absorção dessa mão-de-obra, em virtude de oferecerem oportunidades
profissionais mais flexíveis como, por exemplo, o trabalho informal ou por
conta própria, A ênfase conferida ao setor social a partir da década de 60, tem
haver diretamente como esta nova diretriz: educação e saúde seriam condições
prévias para a produtividade dessas populações especialmente em trabalho por
conta própria. (FONSECA: 2002:48)
Como mostrado
anteriormente, em 1980 a reestruturação organizacional do Banco Mundial o fez
atuar mais politicamente, negociando dívidas externas dos países e financiando
projetos nos setores sociais. Para atuar nesse novo campo fez-se necessário à
produção de documentos explicitando os princípios, as diretrizes e as
prioridades em determinadas áreas que alavancam o país, Dentre essas áreas cabe
a grande importância dada à educação.
Em síntese:
até aqui é percebido que o Bird vem com um discurso fundamentado na equidade
das nações. Para atingir esse objetivo argumenta a necessidade de inserir os
pobres na produtividade do país. Entretanto, é necessário qualificá-los para
entrarem no mercado de trabalho e, assim, com sua produção equilibrar
politicamente, economicamente e socialmente os países. Logo, é necessária uma
educação para a profissionalização do pobre.
Frigotto
(2000), a respeito da perspectiva de uma
educação produtora da capacidade de trabalho levanta duas questões: Como a
educação poder ser geradora de diferentes tipos de capacidade de trabalho,
produtividade e renda? Que tipo de educação gera diferentes tipos de capacidade
de trabalho? “O embate é sobre o que de fato produz a capacidade de potenciar
trabalho e o que a escola efetivamente desenvolve: conhecimentos e habilidades
técnicas específicas ou determinados valores e atitudes funcionais ao mundo da
produção? (FRIGOTTO: 2000:42).
4- GESTÃO
DA EDUCAÇÃO
Gestão da
educação e políticas públicas estão intrinsecamente relacionadas. Os objetivos
e as metas educacionais inscritas na constituição – políticas públicas -
tornam-se concretas com a prática do gestor. Portanto, analisar o gerenciamento
do setor social educação, nas escolas ou no sistema de ensino, implica em
desenvolver estudos de reflexões a respeito das políticas públicas. Nesse
sentido, este capítulo tem como objetivo apresentar concepções de gestão pautadas
em leis que fundamentam a atuação do gestor da educação.
Como ponto de
partida da reflexão e para ilustrar o parágrafo anterior é importante ressaltar
que as escolas de jurisdição dos municípios são inter-relacionadas pela
articulação do secretário da educação municipal. Esse visa o desenvolvimento
satisfatório do projeto da instituição que é fundamentado e conduzido segundo
uma concepção de sociedade, de cultura e de educação determinada. Nas
entrelinhas, o processo educacional e a ação da escola são definidos segundo o
projeto de formação cidadã que essa acredita.
Pensar a
escola e a construção de seu projeto de vida requer o estabelecimento de
fundamentos sobre os quais se assenta essa construção, ou seja, definir
pressupostos filosóficos, sociais e educacionais. (GRACINDO e BORDIGNON: 2000: 149)
A construção
desse projeto e a constituição desses pressupostos devem ter base na análise do
conjunto de normas que servem como modelo para o convívio social, no estudo da
especificidade da organização escolar, no entendimento da escola como
construtora de cidadania e democracia, na função social pretendida para a
instituição responsável pelo ensino-aprendizagem e, por fim, na pesquisa
histórica do papel da escola. Esses são importantes aspectos para a boa
formação do aluno.
O responsável
por coordenar na comunidade escolar essa construção formativa, gestor
educacional, deve estar alerta as proposições citadas para fundamentar suas
propostas de atuação. Entretanto, esse gestor pode adotar uma postura
autocrática, ou esse pode levar suas ideologias, pensamentos e opiniões para o
estudo coletivo com a comunidade da qual trabalha junto. Nos dois casos há
características dominantes: no primeiro o grupo obedece às ordens do líder
autoritário – idiossincrasia - e no segundo, o líder trabalha com ideários
dominantes de um grupo - paradigma-.
A ação humana é motivada pelo conjunto de
idéias que acredita. Suas ideologias podem ser baseadas em estruturas radicais
de pensamentos, isto é o que chamamos de idiossincrasia. Nessa metodologia de
comando, o líder determina as posições, as ações, as concepções e a visão de
sociedade do grupo do qual lidera, ou seja, não há preocupação com o pensamento
coletivo, mas, há valorização da postura individual. Assim sendo, a construção
do projeto educacional é feita de mão única. GRACINDO e BORDIGNON (2000) a esse
respeito dizem:
Quando
alguém revestido de poder determina a ação do grupo a partir de suas idéias, de
sua particular visão de mundo, ele não está conduzindo esse grupo segundo
determinado paradigma, mas, sim segundo seu posicionamento pessoal, portanto
idiossincrático. (P.150)
O conjunto de
idéias construídas, pensadas, estudadas, formuladas, aceitas, determinadas e
adotadas pelo coletivo, ou seja, pelo grupo é o que se denomina, nesse contexto
paradigma. A conotação desse termo diz respeito a ideários e valores assumidos
coletivamente. Tal postura profissional nos permite uma melhor visão do quadro
social, como seus valores, suas ideologias, contradições, estruturas e seus
objetivos. A partir desse panorama social, o líder paradigmático conduz sua
atuação para a construção de uma sociedade igualitária.
GRACINDO e
BORDIGNON (2000), relacionando a prática da educação na sociedade com esses
dois conceitos, dizem que essas reflexões são importantes para que o plano
municipal de educação e o projeto político pedagógico da escola não sejam
oriundos de práticas idiossincráticas, o que leva para um conceito idealizado
de sociedade, conseqüentemente apresenta visão distorcida da realidade, mas que
a educação tenha presente, no seu conjunto de idéias os paradigmas necessários
para concretizar os seus projetos.
A
proposta de inovação na gestão dos sistemas municipais e das escolas deve ter
presente, portanto, questões como: que paradigmas presidem as atuais práticas
de gestão da educação? Que paradigma garantirá a construção da escola cidadã,
através de uma gestão democrática, cujos fundamentos são a autonomia, a
participação e a emancipação? (GRACINDO e BORDIGNON :2000: 151)
Na concepção
de gestão idiossincrática: a relação do gestor da educação com a equipe
formadora é fragmentada, é vertical, assume posturas de dominação, obedece a um
organograma piramidal. Em conseqüência a subjetividade do processo da educação
é ignorada, pois a autoridade do chefe é autoridade de dominação e
subserviência, resultando na formação de cidadãos passivos na relação social.
Essas
relações permitem ao (a) secretário (a) da educação e ao (a) diretor (a) da
Escola, administrar segundo sua idiossincrasia, ou seja, sua maneira de ver e
conceber a educação. A superação dessas relações de verticalidade,
estabelecendo relações de reconhecimento, aconteceu a partir da concepção de
cidadania que ressalta a dimensão do coletivo. (GRACINDO Regina e BORDIGNON
Genuíno, 2000: 151).
No novo
paradigma emergente, do qual a nova concepção de gestão deveria ser
fundamentada, o poder não está situado em núcleos hierárquicos, mas sim nos
estudos coletivos dos sujeitos iguais. Um indivíduo não possui mais status que
o outro na emissão de opinião e na construção da formação cidadã todos possuem
a mesma significância. A subjetividade da comunicação entre os atores sociais
da educação é respeitada e valorizada, então a particularidade perde força
quando considerada a proposta do grupo, isto é, a decisão é desenvolvida em
colegiados consultivos e deliberativos.
Importante
ressaltar que nessa nova concepção organizacional não diminui a importância e
autoridade dos gestores educacionais; ela destaca e demonstra, isto sim, como é
fundamental o papel dos mesmos na gestão democrática e, por isso, a importância
de que sua prática seja mais competente tecnicamente e mais relevante
socialmente. (GRACINDO e BORDIGNON : 2000: 152)
O quadro que
segue deixa mais claro as duas vertentes contrárias de conduzir a comunidade
escolar.
ENFOQUE E ATITUDES
|
||
PARADIGAMA VIGENTE
(Tradicional)
|
PARADIGAMA EMERGENTE
(Novo)
|
|
Relações de
poder
|
Verticais
|
Horizontais
|
Estruturas
|
Lineares/
segmentadas
|
Circulares/
integradas
|
Espaço
|
Individualizados
|
Coletivos
|
Decisões
|
Centralizadas/
imposições
|
Descentralização
/ diálogo/ negociação
|
Formas de ação
|
Autocracia/
paternalismo
|
Democracia/
autonomia
|
Centro
|
Autocentrismo
/ individualismo
|
Heterocentrismo
/ grupo-coletivo
|
Relacionamento
|
Competição /apoio/ independência
|
Cooperação/ cessão/ interdependência
|
Meta
|
Eliminação de
conflitos
|
Mediação de
conflitos
|
Tipo de
enfoque
|
Objetividade
|
Intersubjetividade
|
Visão
|
Das partes
|
Do todo
|
Objetivo
|
Vencer de -
Convencer
|
Vencer com -
Co-vencer
|
Conseqüência
|
Vencedores - perdedores
|
Vencedores
|
Objeto do
trabalho
|
Informação
|
conhecimento
|
Base
|
A-ética
|
Ética
|
Ênfase
|
No TER
|
No SER
|
Quadro 1 fonte:(GRACINDO e BORDIGNON : 2000: 153)
Esse tema, gestão da educação, apresenta-se como tema relevante no
debate da administração pública. Faz parte dele assuntos relacionados à
formação cidadã, projeto de desenvolvimento da Nação, organização dos sistemas
de ensino e organização das instituições de ensino. Tais considerações
desencadeiam questões bastantes polêmicas, por exemplo: desobrigação do Estado
mediante as privatizações, interesses individuais versus interesses coletivos,
interesses políticos em oposição aos interesses sociais. Em diferentes períodos
históricos, os estudos sobre a organização da escola e o relacionamento dessas com
os governos contemporâneos implicam diferentes ideologias sobre a estrutura
organizacional do espaço público e as responsabilidades do Estado, da sociedade
e dos profissionais da educação.
Na realidade brasileira, a discussão sobre gestão escolar ganha impulso
em 1970. A classe trabalhadora começa a reivindicar o direito de seus filhos
estudarem em escolas públicas, em conseqüência, reflexões relacionadas à falta
de vagas, as taxas de reprovação, as precárias condições das instalações
escolares e a limitada profissionalização do magistério ganham visibilidade. Em
1980, os professores começam a se organizar em sindicatos e a conquistar planos
de carreira e cargos e a valorização da formação. Começam, então
questionamentos sobre a organização burocrática e a hierárquica da
administração escolar.
Medeiros e Luce (2006), no artigo “Gestão democrática na e da
educação: concepções e vivências” lembram que a noção de gestão democrática da
educação, compreendendo a gestão democrática na educação, é formulada no bojo
da ampla luta pela democracia. Conforme ilustra o parágrafo anterior.
Antes de entrar no estudo de gestão democrática da educação, é
importante abrir um parêntese: No século XX duas vertentes entram em confronto,
e segue em confronto no início do século XXI: vertente liberal e vertente
marxista ou socialista.
Em uma democracia participativa os cidadãos devem se sentir parte
ativa da nação, portanto precisam entender que são agentes que lutam por uma
nova sociedade, assim abre-se à possibilidade do rompimento da sociedade
dualista - os que mandam e os que obedecem. A esse argumento, Medeiros e Luce
(2006, p.17) citando Bordenave dizem: “A democracia é um estado de
participação”. Neste processo a população deve estar presente em todos os
níveis de participação, devem estar presentes nos processos democráticos,
precisa apropriar-se das informações para tomarem partido nas deliberações
exercendo, portanto, controle e avaliação sobre os planos sociais bem como suas
execuções. “Entendemos a participação como uma necessidade humana e como um
elemento central na vida política contemporânea” (MEDEIROS e LUCE: 2006: 17)
Entretanto, a participação também é uma estratégia política tanto
para os setores progressistas tanto para os não favoráveis aos avanços das
forças populares, por isso,
há de se perceber que a participação pode tanto
prestar para objetivos emancipatórios, de cidadania e autonomia dos sujeitos,
como para a manutenção de situações de centralização do poder decisório e do
controle de muitos por poucos ( MEDEIROS E LUCE :2006 :17)
Essa antagonia da prática de participação é possibilitada através
da estreita noção de democracia, ou seja, uma limitada formação do que vem a
ser democracia reduzindo o conceito a uma prática quem não questiona quem
delibera, isto é, não há espaço para os debates das políticas e decisões
públicas, mas sim, há espaço para conformidade da aplicação e fiscalização das
deliberações. A participação é emancipatória quando visa à formação de
cidadania e autonomia dos sujeitos, prática que é conquistada quando é
apresentado de onde vem às deliberações, quem as formulam e postulam-na.
Não se pode descartar que a participação na vida econômica,
política e social estão pautados em condicionamentos e interesses subjetivos da
política. Analisar o conflito social possibilita entender as limitações de uma
democracia participativa, “as condições de participação no mundo atual são
essencialmente conflituosas e a participação não pode ser estudada sem
referência ao conflito social” (BORDENAVE apud MEDEIROS E LUCE, 2006, p.18)
Com esta visão geral sobre democracia participativa, voltemos ao
campo da educação, que é de fundamental importância para a formação filosófica,
política e ideológica dos cidadãos. As duas formas de participação descritas
nos parágrafos anteriores podem ser praticadas e conceituadas nas escolas, logo
pode-se promover ou restringir a inserção dos
indivíduos em espaços sociais além do que lhes seriam previstos ou
'autorizados'. Isto é, educar em determinado ambiente democrático, para apreço
de determinada democracia. (MEDEIROS E LUCE: 2006: 18)
A Gestão democrática da educação está relacionada a definições de
ações que liguem a participação da comunidade escolar na formulação de
políticas sociais que levam a escola a participarem de ações na sociedade. Porém,
a organização, interna, da estrutura escolar precisa conter bases sólidas, isto
é, as decisões, os planejamentos e as definições políticas são tomados em
conjunto com a comunidade escolar. Em um plano mais amplo, a democratização da
educação está intrinsecamente ligada à universalização do acesso a educação bem
como suas estratégias, isto é, a comunidade escolar luta por: democratização do
acesso ao ensino, estratégias para garantir a continuidade dos estudos,
qualidade social da educação, universalização da educação.
No senso comum contemporâneo, as palavras participação e
descentralização estão presentes nos discursos da reforma educacional. Esses
discursos reconhecem que a educação interfere diretamente na democratização da
nação bem como o seu desenvolvimento, também defendem uma nova abordagem no
plano curricular e mais investimentos nas condições de ensino.
Assim, quer se trate da diversidade do cenário
social e de sua presença na escola, ou mesmo da necessidade do Estado sobrecarregado (Barroso, 2000) de
'aliviar-se' de suas responsabilidades, transferindo poderes e funções para o
nível local, descentralização e desburocratização dos processos administrativos
são propostas em voga. (MEDEIROS E LUCE: 2006:18).
Medeiros e Luce (2006, p.19) argumentam que esse consenso geral,
recebeu contribuição da globalização que impôs, como visto neste trabalho,
padrões econômicos e sociais pautados na acumulação de capital o que
desencadeou numa profunda reestruturação produtiva determinando novas formas de
relacionamento entre Estado e sociedade, afetando o campo da educação com a
idéia de qualidade com menor custo e maior flexibilidade.
O processo de democratização da gestão está inserido nesse
contexto de acumulação de capital o que leva a educação a ser vista na ótica
dos planejamentos, execução e avaliação conforme os padrões de produtividade
empresarial. Barros (2001) diz, a esse respeito, que a gestão democrática da
educação é uma territorialização das políticas educativas, pois, a
descentralização cria a possibilidade de controle, pelo poder central, o que
reduz a educação a questão de negócio e mercadoria, lógica nociva e perversa,
distanciada do que vem a ser o compromisso social da educação.
A educação precisa está comprometida com a manifestação cultural,
com a transformação social, com a superação da maneira como se encontra a
sociedade organizada caracterizada pela exclusão, desigualdade política,
econômica e social, hierarquização, etc. “Em decorrência, a concepção de gestão
educacional tem como premissa o compromisso da escola pública com as
comunidades onde está inserida e a quem serve”.(MEDEIROS E LUCE: 2006: 20)
A democracia na organização escolar está ligada à transformação
social, portanto, pais, alunos, educadores e comunidade escolar juntam-se para
exigir do Estado condições para o funcionamento autônomo da escola, evitando
processos de privatização, isto é dinheiro público para a escola pública.
Além dos conceitos de participação e descentralização, o conceito
de autonomia também é bastante recorrente no debate da gestão democrática. Em
geral esse conceito é usado quando os interesses e opiniões individuais estão
sendo desrespeitados. Tendo como ponto de partida as variedades de agentes da
educação pública, a autonomia é entendida como a negociação, na confluência,
dos interesses do grupo que estuda juntos as propostas que vai seguir a escola
ou a educação da nação, ou seja, os elementos de um conjunto são constitutivos
e constitui as propostas e os debates acerca da educação.
Pensar em gestão democrática da educação é,
portanto, refletir sobre estas e outras idéias, sempre e todas como parte de um
conjunto de elementos implicados entre si – democratização do acesso e
permanência\continuidade nos estudos, democratização dos saberes que dão
passagem à cidadania e ao trabalho, participação nos processos de planificação
e decisão, relações de autonomia – e sua inserção em um projeto mais amplo de democratização
da sociedade, do qual a educação é constitutiva e constituinte.(MEDEIROS E
LUCE: 2006: 21)
Bastos (2001), concorda com os argumentos de Medeiros e Luce
(2006). Ele apresenta uma visão histórica da gestão democrática da educação e
as práticas administrativas compartilhadas. A esse respeito, endossa que os
movimentos sociais reivindicaram, durante o período de repressão militar, a
participação pública nas instituições pertencentes ao governo. Tal
reivindicação tornou-se princípio da educação na Constituição de 1988, também
conhecida como constituição cidadã, o que apresentou como resultado o controle
da sociedade civil sobre a educação e a escola pública, ou seja, gestão caminha
para um caráter democrático.
De maneira bem otimista, Bastos (2001) prossegue seu raciocínio
mostrando que a ampliação da participação da comunidade nas decisões
educacionais e escolares só tende a ter resultados positivos, pois as forças
dos grupos com diferentes atores - pais, professores, alunos, comunidade à
volta da escola, lideres de associações de moradores-, a partir de interesses
comuns, lutariam por condições de aquisição de materiais, equipamentos
escolares, salários dignos aos profissionais da educação, melhorias na
estrutura, avaliação do currículo etc.
Entretanto, não há como fechar os olhos para a correlação entre
MEC e as secretarias de educação e as escolas. A cada momento essas forças
desiguais são motivadas pela imposição de processos e técnicas de gestão
oriundo dos organismos internacionais, pelo controle do conhecimento na escola,
arrocho salarial, sucateamento de equipamentos escolares. Basto (2001) a esse
respeito, diz:
Para inverter esta situação é necessário a
formação de um controle social da sociedade civil sobre o Estado, através de
uma permanente participação popular nas decisões da coisa pública, da criação
de um novo senso comum que substitua os velhos princípios tayloristas e
fordistas por novos princípios e novas práticas de participação da
administração (p. 8)
Situando a discussão: de um lado o governo apresenta um plano
nacional de educação pautado nos valores neoliberais, nas exigências do Bird, Unesco,
Unicef, que em discurso apresentam o lema escola pública de qualidade para
todos. Do outro lado a sociedade civil apresenta outra proposta de educação argumentando
que a democracia na escola e da escola é um caminho importante para construir
uma escola pública de qualidade.
Nestes dois discursos, ambos aparentemente interessados pela
melhor qualidade da instituição escolar pública, a comunidade da escola se
sente confusa e dividida. De maneira didática, um caminho, utilizado por Bastos
(2001), para estudar sobre o debate da gestão democrática é a reflexão de três
perguntas: “Quais sujeitos ou atores sociais constroem o debate? Quais
temáticas são objetos dos debates? Em que espaços sociais o debate vem
acontecendo?”. (p.14)
A primeira questão engloba os atores sociais que lideram o debate
como também aqueles que deveriam estar mais envolvidos. Singer, citado em
Bastos (2001) apresenta duas propostas antagônicas de educação - civil
democrática (construção de cidadania) e produtivista (mercado globalizado).
Percebe-se que numa determinada conjuntura política e econômica os sujeitos
históricos que sabem dos direitos negados e das contradições sociais são os
responsáveis pelo debate da gestão democrática, intelectuais que pertencem às
classes populares.
Cabe pensar em alguns obstáculos para ter sucesso nesse debate:
quem representa a entidade desses trabalhadores? Como levar o interesse a um
número maior de pessoas? É importante lembrar aqui de duas concepções de
gestão: paradigmática e idiossincrática, se os estudos forem realizados por
representantes da secretaria de educação, trabalhadores, associações de
moradores, há maior possibilidade de conseguir a adesão de um grande número de
pessoas.
É fundamental democratizar o debate, de tal
forma que todos nas escolas públicas possam ser sujeitos dele. A gestão
democrática somente será um modelo hegemônico de administração da educação,
quando, no cotidiano da escola, dirigente e dirigidos participarem desse debate
tanto nas reuniões administrativas e pedagógicas quanto nas aulas. (Bastos: 2001:
14)
Já nos foram apresentados os atores que deveriam estar envolvidos
no projeto de gestão democrática, entretanto é necessário apresentar as
temáticas que deveriam ser discutidas e ainda não o são. As temáticas que mais
foram analisadas são eleições para dirigentes escolares, autonomia da gestão
administrativa e pedagógica da escola, participação das entidades nas políticas
públicas, democracia na sociedade e na escola (Bastos, 2001)
Ainda segundo Bastos (2001), hoje as temáticas não ganharam
grandes transformações, pelo contrário, houve um passo atrás na discussão em
função das políticas neoliberais de educação: em alguns estados e municípios
não há eleições para diretores de escolas, a autonomia da escola dá mais
relevância a gestão de recursos financeiros deixando a gestão pedagógica em
planos outros, existe muito mais uma colaboração cidadã dos pais e da
comunidade que a participação, a formação dos educadores está mais rápida e menos
politizada.
Essa situação de retrocidade do debate nos leva a refletir sobre a
questão: Onde deveria circular o debate sobre gestão da educação? Primeiro
qualquer espaço onde haja pessoas interessadas em pensar orçamento, avaliação
da educação é bem aproveitado para o estudo de tema. Os Conselhos de nível
nacional, estadual, municipal e local são espaços de que deveriam ter maior
incidência para a coordenação desse debate. No entanto, com as políticas de
descentralização e apoiados pelos neoliberais limitam o assunto em nível de
instituição escolar nas reuniões pedagógicas e escolares.
Concluindo, é importante ressaltar que as propostas de gestão
democrática que conseguiram ser implantadas, foram aquelas em que o debate
alcançou um compromisso afetivo de
representações de secretaria de educação, do sindicato da categoria, das
unidades escolares e da comunidade (Bastos 2001, p.18)
Falar em gestão democrática é ir além das mudanças organizacionais
da escola, ela exige como estamos argumentando nesse texto, uma mudança de
paradigma para a fundamentação da proposta democrática de educação. Ela, então,
precisa ser pautada em uma postura coletiva quando se trata do processo de
formação do cidadão e objetivos da instituição responsável pela educação.
5. CONCLUSÃO
A nova ordem
Mundial precisou ser considerada para o entendimento da gestão democrática da
educação. O número de artigos, publicações, pesquisas, de ofertas de cursos de
gestores indicam a importância que ganhou o gestor educacional no processo de
reorganização capitalista. Tal como a segurança, saúde, previdência social,
proteção a maternidade, o trabalho e o lazer, a educação é assegurada pela
Constituição Federal de 1988. O que, legalmente é mais um fator que nos leva a
compreender o fundamental papel dos profissionais que trabalham na escola.
Sublinha-se que a escola é um dos espaços que possibilitam a intervenção
governamental no processo de formação intelectual dos cidadãos. Essa
instituição é responsável pelo desenvolvimento da criticidade e dos
conhecimentos dos futuros profissionais do país. Portanto, é uma comunidade de
aprendizes. Logo, para a gestão escolar ser bem sucedida ela precisa se
preocupar com o aprendizado de todos os envolvidos. Aprendizado que não é técnico
apenas, mas sim humanista, reflexivo, questionador, pesquisador, isso que leva
a escola ao sucesso.
O Brasil, como
foi apresentado nesse trabalho, é um dos países influenciados por organismos
Neoliberais. Esses colocam em segundo plano o real papel da educação. Valorizam
o processo educacional técnico e a educação para a profissionalização e
desvaloriza o desenvolvimento dos questionamentos acerca das políticas
públicas, da economia, da cultura difusa na sociedade, a problematização das
informações oriundas dos meios de comunicação etc. As mudanças defendidas pelos
partidários da gestão democrática precisam da abertura dos regimes tradicionais
para a criação de novas formas de participação objetivando o avanço no sentido
do direito a cidadania.
Percebe-se uma
dicotomia: os organismos internacionais, causadores das transformações
decorrentes do processo de reordenamento capitalista mundial, mais conhecido
como globalização que propõe uma reorganização da educação visando à formação
cidadã diferenciada para os distintos grupos sociais. E alguns gestores
críticos, reflexivos e democráticos reivindicando uma redemocratização do país
objetivando participações vindas de vários atores sociais no campo da educação,
ou seja, uma pressão por formas mais abertas e eficazes de participação na
formulação de políticas educacionais e resolução dos problemas educacionais.
Foi necessário
compreender essas duas idéias para responder o questionamento que motivou essa
pesquisa: quem, na década de 1990, época em que freqüentava a escola primária
Municipal, era ou é responsável por manter a segregação social? É angustiante
ter a confirmação das premissas que levantamos para dar início à investigação.
Banco Mundial e Fundo monetário internacional são organismos que passaram a
usar a gestão descentralizada da educação como estratégia de garantir a
perpetuação da ordem econômica vigente. Em outras palavras, os organismos
internacionais fazem uso de seu poder econômico para manipular como e onde os
Estados devem investir os empréstimos concedidos por eles. Claro que a escola,
que é o ambiente de intervenção governamental e por ter como objetivo o
processo de formação dos cidadãos é um espaço importante para manutenção do
capitalismo.
É curioso
estudar o artigo 205 da constituição Federal e ou o 2º artigo da LDBEN onde
afirmam que a finalidade da educação é o pleno desenvolvimento da pessoa,
prepará-las para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Partindo dos estudos levantados nesse trabalho monográfico e pegando emprestadas
as reflexões de Buffa (1986), cabe questionarmos aqui: que tipo de cidadania a
sociedade capitalista oferece? Frigotto
(2000) completa: educação para a qualificação profissional? Esse é o objetivo
da educação?
Os Princípios
que orientam a educação nacional são: igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
cultura, arte e o saber; pluralismo de idéias e concepções pedagógicas;
respeito à liberdade e apreço à tolerância; coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino; gratuidade de ensino público em estabelecimentos
oficiais; valorização do profissional de educação escolar. (CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, 1988). Porém, não basta está nos textos da constituição é preciso
construir estruturas organizacionais para a realização do escrito. Essa é uma
das lutas defendidas pelos gestores democráticos da educação. O setor
educacional precisa da colaboração social para ser promovido, incentivado,
melhorado, redefinido em se tratando de objetivos pedagógicos e sociais, ou
seja, a educação precisa ser compartilhada entre o Estado e a sociedade.
Logo, a
educação é o processo formativo que se desenvolve na vida familiar, no convívio
humano e no trabalho, em instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organização da sociedade e nas manifestações culturais. Portanto, de
responsabilidade de todos os cidadãos.
Porém,
infelizmente a atual sociedade em que se vive baseada no lucro, no imediato, na
formação para o mercado de trabalho, na individualidade, que são valores
capitalistas e reforçados pelos organismos internacionais, impossibilitam o
desenvolvimento de uma gestão participativa. Entretanto, ainda há grupos
sociais e gestores que compraram a briga e lutam por uma educação participativa
e certamente essa é a motivação que levou Morin
(2002, p.40) a dizer:
Na missão
de promover a inteligência geral dos indivíduos, a educação do futuro deve ao
mesmo tempo utilizar os conhecimentos existentes, superar as antinomias
decorrentes do progresso nos conhecimentos especializados e identificar a falsa
racionalidade.
6. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BASTOS, João Batista (org). Gestão democrática. 1.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
____- Gestão democrática da educação: as práticas administrativas
compartilhadas. In BASTOS, João Batista (org). Gestão
democrática. 1.ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2001.
BITTAR, Mariluce, OLIVEIRA, João Ferreira (org).
Gestão e Políticas da educação. 1.ed. Rio de Janeiro: DP&A,2004.
BORDIGNON, Genuíno,
GRACINDO, Regina. Gestão da educação: o
município e a escola. In FERREIRA, Naura Syria Carapeto, Aguiar, Márcia
Ângela da S.Aguiar (Orgs). Gestão da
educação: impasses, perspectivas e compromissos. 4 Ed. São Paulo: Cortez:
2000.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. 27.Ed. atual. e amp. São Paulo: Saraiva, 2001.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação
nacional. 8 ed. Rio de Janeiro: DP&A: 2004.
BRUNO, Lúcia. Poder e administração do capitalismo
contemporâneo. In OLIVEIRA, Dalila Andrade Oliveira (org). Gestão democrática da educação: desafios
contemporâneos. 4 .ed. Petrópolis: Vozes,
2002.
BUFFA, Ester, ARROYO,
Miguel, NOSELLA, Paolo. Educação e cidadania: quem educa o cidadão? 6 ed. São Paulo: Cortez: 1986.
CARVALHO, André, GODOY,
Cláudia. Imperialismo. 4 ed. Belo
Horizonte: Ed. Lê, 1994.
DORIGO, Gianpaolo,
VICENTINO, Cláudio. História para o
ensino médio: história geral e do Brasil.
São Paulo: Scipione, 2002.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real.
4 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FONSECA, Marília. O Banco mundial e a gestão da educação
brasileira. In OLIVEIRA, Dalila Andrade Oliveira (org). Gestão democrática da educação: desafios
contemporâneos. 4 .ed. Petrópolis:
Vozes, 2002.
LUCE, Maria Beatriz,
MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso (Orgs). Gestão
escolar democrática: concepções e vivências. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2002.
_______ - Gestão
democrática na e da educação: concepções e vivências. In LUCE, Maria
Beatriz, MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso (Orgs). Gestão escolar democrática: concepções e vivências. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2002.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do
futuro. 6 ed. São Paulo: Cortez: 2002.
OLIVEIRA, Dalila Andrade
Oliveira (org). Gestão democrática da
educação: desafios contemporâneos. 4
.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
VERA, Corrêa. Globalização e neoliberalismo: o que isso
tem a ver com você, professor? Rio de Janeiro: Quartet, 2000.
VIEIRA, Sofia Lerche. Educação e Gestão: extraindo significados
de base legal. In LUCE, Maria Beatriz, MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso
(Orgs). Gestão escolar democrática:
concepções e vivências. Porto
Alegre: editora da UFRGS, 2002.
Olhos abertos com a educação
Pensar em educação e deixar de lado povo, governo, exclusão, ideologias, história e estrutura social é se perder no pensamento. Caminhando por períodos diferentes da história perceberemos o quanto esses fatores se relacionam e, pior, o quanto o povo é obediente a pensamentos, ao invés de questionador.
Na Grécia antiga, por exemplo, a educação era destinada a uma pequena parcela da sociedade. Somente a elite (homens livres), tinha direito a essa. Na época a ideologia dominante consistia em ensinar uns poucos a governar, então, o homem bem educado tinha de ser capaz de mandar e fazer-se obedecer. Tal pensamento está diretamente ligado à divisão social grega: modelo elitista (tinham “direito” a democracia) e excludente (trabalho escravo).
Um outro período, onde é evidente a relação da história, do modelo social e educação, é a idade Medieval, marcada pelo grande poderio da igreja católica. Essa tinha objetivos educacionais doutrinários. Ou seja, manter a massa dócil e conformada com o poder vigente. Logo, são necessários um projeto político pedagógico para a classe trabalhadora (catequese, ensino dogmático, educação oral, cultura da luta da sobrevivência) e um projeto político pedagógico para o nobre (educação humanista e filosófica, formação musical e guerreira).
Houve um período onde as camadas populares pressionaram a elite dominante reivindicando uma educação pública. Período conhecido como Iluminismo. Assim sendo, o estado institui a obrigatoriedade escolar, nasce, então, as escolas públicas. Porém, os filhos dos burgueses não estudavam nessas, tinham seus professores particulares. Na época, educação pública tinha como objetivo oculto, construir “estoque” de mão de obra. Afinal, se é dada uma educação de qualidade para a massa popular, essa poderia prejudicar o democrata.
Sociedade grega, idade medieval e o período iluminista foram às épocas usadas para mostrar a quanto uma elite dominante interfere diretamente na formação ideológica do povo. Nossa sociedade é composta de idéias coletivas, porém, essas estão subordinadas (mas não deveriam estar) aos pensamentos de uns poucos.
Então, é necessário que as camadas populares tenham acesso a uma escola básica que possibilite ao aluno chegar a um conhecimento científico para que conheça e entenda o mundo em que está inserido.
A prática educativa deve estar direcionada, portanto, para a formação humana do indivíduo, o indivíduo, na prática educativa, deve ser motivado a investigar a sociedade seus valores, sua divisão e seus fundamentos. Assim sendo, ocorrerá uma modificação na disposição, na capacidade, no comportamento do homem. Logo, a prática educativa atinge seu principal objetivo: a Aprendizagem.
Aprendizagem essa, que está inteiramente relacionada com o entendimento da sociedade. Isto oferece ao ser humano um direcionamento para sua ação, dando base para lutar por seus objetivos. Não mais ficando submissa a ideologia dominante.
A EDUCAÇÃO VISTA POR BOURDIEU
Para apresentar a tese de Bourdieu à cerca da seleção “neutra” que a escola realiza daquele que possui méritos para chegar a pontos elevados, é necessário apresentar antes alguns conceitos por ele utilizados. Esses aparecerão no decorrer de sua leitura, com breves explicações.
Na obra do sociólogo o termo “Agente” é utilizado no lugar do termo sujeito. Isso se dar por considerar que os indivíduos agem na sociedade. Essas ações, cotidianas, são influenciadas por “constrangimentos sociais”. Bourdieu argumenta que o “agente” constrói suas opiniões através do relacionamento, logo sofre influencias da relação social. Para tanto as escolhas dos indivíduos estão alem de explicações racionais.
Assim, o sociólogo francês, busca resposta que ligue comportamento individual com a estrutura social e como essa interfere na ação do “agente”. Nesse contesto surge outro conceito bourdieusiano denominado “hábitus” –Consideração da ação social como fruto da estrutura social herdada e, também, calculo racional do individuo mediado por disposições.
A palavra disposição se refere aos motivos que levam os indivíduos a uma ação sem questionamento prévio. Em geral essas ações são herdadas no processo de socialização e, portanto, são incorporados como estruturas racionais que organizam os “hábitus” de determinada cultura e ate do mundo.
Faz parte da teoria sociológica as “disposições incorporadas”, esta gira em torno do “hábitus”. Para melhor fundamentar essa expressão dissociarei em duas palavras. A primeira, disposições: Essa se refere ao nível subjetivo que sofre influencias da estrutura social que ao ser incorporadas- aqui a segunda palavra- posicionam socialmente o individuo.
Em um ambiente em que as ações se desenvolvem é complicado evitar imprevistos, mesmo quando planejado antecipadamente, diante disso o individuo é forçado a agir irrefletidamente. Bourdieu chamou esse fato “razão pratica”. Essa diz que ações tomadas estão diretamente relacionadas a pratica cumulada. Tem se que aqui uma outra característica do “habitus”: a aprendizagem num ambiente em que as ações acontecem.
Percebe-se que o “habitus” não foi compreendido como conceito isolado do social. Pelo contrario, a analise esta centrada no social e na autonomia da ação do individuo. Cabe então anexar aqui três expressões usadas pelo sociólogo: Capital cultural, Capital escolar e Capital social, pois essas conduzirão o modo de se comportar em determinadas situações, e até a posição social ocupada pelo “agente”. Esses capitais se relacionam no intuito de conquistar poder e prestigio, ou seja, são pontos de partida para o sucesso.
Para dar inicio a analise educacional, segundo os conceitos e a teoria que é apresentada, gostaria de acrescentar que para Bourdieu, quanto mais o “agente” domina o “habitus” mais destaque o individuo terá e mais possibilidade de mobilidade social, também.
No ambiente de ensino, nota-se que os alunos que possui destaque na linguagem, que argumentam bem e que estão alem das expectativas do professorado coincidem com os que possui acumulo de capital social e acumulo de capital cultural, características que em geral são oriundos do campo familiar. Esses alunos ganham estímulos para progredirem e conseqüentemente adquire-se um “gosto natural” pela coisa que é identificada como “vocação” e/ou “talento”.
A luz disso é preciso que o professor tome cuidado para não ratificar as diferenças sociais. Caso contrario, o professor, não estará proporcionando uma boa aprendizagem ou um bom desempenho do aluno, mais sim reforçando as diferenças sociais, como dito anteriormente. Para Bourdieu: a escola-no caso francesa e contemporânea dele-transforma habilidade em diferentes potencias, acumulados do capital social e cultural, em classificações de desempenho, por isso fortifica a desigualdade.
Na pratica educacional, alguns professores, em razão das “disposições incorporadas” - Conceito que já foi explicado-Não conseguem perceber quando estão fazendo uso do mecanismo descrito no parágrafo anterior. Por que? Porque os professores passaram pela condição de aluno-que era usada aquela pedagogia-, incorporaram aqueles “habitus” e voltaram à escola exercendo a função tento como ponto de partida as percepções acumuladas da “razão pratica” - conceito que também foi explicado anteriormente-. Assim explica Bourdieu a razão do comportamento dos professores a cerca da questão, e a aceitação submissa do aluno.
Pode-se compreender que a escola constitui uma instituição de classificação social exemplar, pois são geradoras de habitus que criam “disposições” extremamente favoráveis as hierarquias sociais, graças ao habitus que a escola incuca. Nesse sentido constituem uma forma de “dominação simbólica”, uma vez que produz conhecimento às diferenças e divisões sociais e desconhecimento de suas condições de produção.
A analise de Bourdeu teve grande efeitos sobre os professores que desconheciam a incorporação do “habitus” na pratica em sala de aula. Caiu por terra a idéia que a escola realize uma seleção “neutra”. Os educadores passaram a atentar que “os dons” possuem raízes sociais e, portanto podem ser modificados. Essa tese, libertou os professores, da ilusão de liberdade. Portanto é importante conhecer a dimensão do funcionamento dos “habitus”, do sistema de ensino, ou seja, a peculiaridades da educação.
É central nessa tese, a idéia de que toda forma de hierarquia social retira a legitimidade do fato de arbitrariedade. Bourdieu diz que a autoridade pedagógica só pode ser garantida se o caráter arbitrário, socialmente imposta da cultura escolar, for ocultado. Como dito anteriormente, esse processo de imposição dissimulada é denominado de “violência simbólica”.
A comunicação pedagógica exige de forma implícita, o domínio prévio de um conjunto de habilidades e diferenças culturais e lingüísticas que apenas os membros das classes mais elevadas possuiriam. Os professores, por sua vez transmitem sua mensagem igualmente a todos os alunos, como se todos possuíssem os mesmo capitais culturais, escolares e sociais no histórico familiar. Então, na verdade as diferenças nos resultados escolares dos alunos, que tendem a servir como diferença de capacidade, na realidade decorrem da aproximidade da cultura escolar e cultura familiar do aluno.
Seguindo a analise, Bourdieu percebe que o sistema escolar ao avaliar e proferir seu julgamento leva em conta a relação que os alunos tem com a cultura. Assim sendo os que adquirirem por familiarização, no caso os “agentes” socialmente privilegiados obtém sucesso no rendimento escolar. Por outro lado, os alunos menos favorecidos, que tiveram acesso através da incucação escolar, obtém resultado tardio e pouco eficaz. Bourdieu fundamenta isso dizendo que alunos de classes dominantes tiverem a cultura adquirida da “razão pratica” e os demais adquiridos dos habitus incorporados na instituição de ensino oriundo da estrutura social.
Aprofundando na questão, o sociólogo aqui apresentado, diz que a cultura consagrada e permitida na instituição escolar não é objetivamente superior a nenhuma outra. Mais essa são reconhecidas com a únicas universalmente validas, ou seja, “cultura legitima”. Fora do campo social essa ganharia denominação de “cultura arbitraria”, porque a estrutura e a função desta não esta fundamentada e nenhuma verdade objetiva inquestionável.
Em suma, a escola valoriza o modo de relação com saber e com a cultura que apenas os filhos da classe dominante, dado ao acumulo do capital escolar, cultural e social, poderiam ostentar, valorizam-se umas elegâncias verbais, uma familiaridade com a língua e com a cultura legitima que não podem ser adquiridas completamente com aprendizagem escolar. Portanto Bourdieu sustentou que a escola exige um modo especifico de se relacionar com a cultura e com o saber, que é intimamente associada à cultura dominante; fundamenta que a escola contribui na seleção daqueles que possuem acúmulo de capitais suficientes para chegar em patamares mais elevados, ou seja, a escola privilegia quem por sua bagagem cultural já é privilegiado.